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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Receita impede 'fuga' de acusado de ajudar Bolsonaro na muamba das joias

Colunista do UOL

10/04/2023 17h21

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Acusado de pressionar fiscais que confiscaram R$ 16,5 milhões em joias a liberarem a fortuna para Jair Bolsonaro, o ex-secretário da Receita Federal Júlio César Vieira Gomes tentou uma "fuga institucional", demitindo-se do cargo de auditor para evitar uma punição no currículo.

Levou uma invertida do órgão, que negou o pedido. A justificativa é de que há uma investigação preliminar contra ele na corregedoria do órgão, segundo apurou Andrea Sadi, no G1 - a informação foi confirmada pelo UOL. Caso considerado culpado, ele pode receber uma punição administrativa, como ser impedido de ocupar novamente cargo público. Isso, claro, além dos desdobramentos criminais em curso na Polícia Federal.

Como há dúvidas se é possível suspender uma exoneração sem um processo disciplinar aberto, a questão ainda vai render discussão. Mas, na prática, isso já serviu de sinalização de que os indícios por seu comportamento neste caso são graves.

Gomes é um dos pivôs do escândalo das joias dadas pela Arábia Saudita ao Brasil que foram trazidas como muamba usando militares como mulas e que ainda não se sabe se foram propina ou suborno. Parece roteiro de filme B, mas é só Bolsonaro tentando se apropriar da coisa pública.

Após os servidores da Receita Federal no Aeroporto Internacional de Guarulhos fazerem seu trabalho e confiscarem o conjunto milionário de joias, Jair teria colocado o então responsável pelo órgão para chuchar seus subordinados. A investigação sobre as comunicações de Gomes, que pode apresentar provas da pressão em nome de Jair, foi revelada por Graciliano Rocha e Amanda Rossi, do UOL.

Ele disse em depoimento à PF que tratava as joias como bem público quando pediu a sua requisição, em consonância com o depoimento do próprio Bolsonaro - o que é bem conveniente para ambas as partes.

Em 30 de dezembro do ano passado, muito antes do jornal O Estado de S.Paulo trazer à tona que Jair é joia, o presidente indicou o chefe da Receita para o cargo de adido tributário e aduaneiro na Embaixada do Brasil em Paris - o que foi visto como um pagamento pelos serviços prestados.

A nomeação foi feita pelo general Hamilton Mourão, então presidente em exercício, após Bolsonaro fugir para a Flórida nesse mesmo dia. Contudo, o cargo foi extinto por Fernando Haddad, ao assumir o Ministério da Fazenda. Depois, bolsonaristas ainda tentaram conseguir um carguinho para ele no governo do Estado de São Paulo, mas sem sucesso.

Sem ter para onde se refugiar e aguardando em uma espécie de limbo uma decisão da Receita, o ex-secretário está nu e com o futuro descoberto. A depender do que for encontrado nas investigações, passará de homem-forte a mais um homem-bomba de Bolsonaro.