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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Caso GSI mantém ataque golpista a Brasília como obra da extrema direita

Ataque de bolsonaristas às sedes dos Três Poderes em Brasília - Marcelo Camargo/ABr
Ataque de bolsonaristas às sedes dos Três Poderes em Brasília Imagem: Marcelo Camargo/ABr

Colunista do UOL

20/04/2023 04h04

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Para se defender dos atos golpistas de 8 de janeiro, a extrema direita tem usado a tática de culpar a vítima pelo ocorrido. Passou a vender a falsa ideia de que a destruição do Palácio do Planalto, do Congresso e do STF foi coisa de infiltrados de Lula. Ou seja, o principal alvo dos ataques planejou uma ação contra si mesmo, que poderia tornar ingovernável o país.

Há um longo trabalho da Polícia Federal, da Procuradoria-Geral da República e do Supremo Tribunal Federal para descobrir quem foram os responsáveis por executar, financiar, incitar e planejar o terrorismo naquele dia. E o cerco vai se fechando não para cima de Luiz, mas de Jair. Além disso, centenas de presos que passaram pela Papuda e pela Colmeia por atentarem contra a democracia não negam quem era seu "mito".

As imagens divulgadas pela CNN do agora ex-ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, general Gonçalves Dias, e de servidores do GSI orientando golpistas que invadiram o Palácio do Planalto a saírem não mudam essa realidade. O GSI ainda era território bolsonarista e o general pouco conseguiu mudar isso. Essa incapacidade de controlar a própria tropa (e de puni-la por desvios) é uma das razões que levou Lula a aceitar sua demissão.

O governo Lula errou feio por não ter revelado as imagens com Gonçalves Dias e informado o que o ministro estava fazendo por lá no 8 de janeiro logo após a invasão do Planalto. O GSI não disponibilizou os vídeos para o gabinete de Lula? Que se demitisse os responsáveis, incluindo o ministro. Essa falha permitiu à extrema direita tentar colar no vídeo a interpretação que desejavam.

Ao mesmo tempo, a estratégia da base do governo no Congresso de evitar a CPI do Golpe mostrou-se equivocada. Quem tentou dar um golpe foram os bolsonaristas, não o campo democrático. Mas o campo democrático ficou acuado por semanas pelos bolsonaristas, tentando evitar uma investigação que pode reforçar à sociedade quem agiu para atropelar as eleições. O governo deveria buscar a presidência e a relatoria da comissão e não evitar que ela fosse instalada.

Vai ser um show de horrores? Vai, porque essa é a intenção de parte da oposição, provocar o caos e tentar terceirizar a responsabilidade pelo que aconteceu. Mas há montanhas de provas coletadas pela PF para apontar Jair e seu bando no meio da coisa toda.

E que se convoque Gonçalves Dias. Ele afirma que, quando chegou, o quebra-quebra já tinha começado e apenas tentou orientar os golpistas para fora do andar do gabinete de Lula. Que prove isso. Mas que também seja chamado o seu antecessor, o general Augusto Heleno, para ser inquirido sobre o GSI que ele gestou. Isso entre outros militares que colaboraram com o 8 de janeiro, dificultando a prisão de golpistas.

O próprio Lula havia dito, quatro dias após os ataques, que houve conivência de servidores públicos. Já vimos imagens do Batalhão da Guarda Presidencial tentando liberar golpistas no Planalto no 8 de janeiro. E também o Comando Militar do Planalto colocando dois blindados na frente do quartel-general do Exército para impedir que a PM entrasse no acampamento golpista a fim de prender criminosos naquela noite.

Com Gonçalves Dias cai o segundo militar em posto-chave do governo desde o início da gestão. O primeiro foi o Comandante do Exército, o general Júlio César de Arruda, também na esteira da perda de confiança pós-ataques. No seu lugar, entrou o general Tomás Ribeiro Paiva, um legalista.

Essa história acende um alerta. Lula precisa depurar o setor de inteligência do governo, que durante os últimos quatro anos se tornou o setor de inteligência do Jair, sob o risco de ver sua gestão sabotada por dentro.

A presença de Ricardo Capelli, secretário-executivo do Ministério da Justiça e ex-interventor na Segurança Pública do Distrito Federal, no papel de interino ajuda nesse sentido. Mas se não tiver carta-branca para agir, crises como essa vão continuar a se repetir.

E sobre a CPI do Golpe, vamos ver se ela servirá para esclarecer pontos, inclusive a responsabilidade direta de Jair Bolsonaro, ou se só vai servir como sabotagem para atrasar a aprovação de medidas econômicas no parlamento, que o Brasil tanto precisa para voltar a crescer.