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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Quantas minutas golpistas vão ter que surgir até Bolsonaro ser punido?

Colunista do UOL

07/06/2023 15h35

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A Polícia Federal encontrou uma minuta golpista e estudos para apoiar um golpe de Estado no celular do tenente-coronel Mauro Cid, o faz-tudo de Bolsonaro quando presidente. Com essa, já são duas nas mãos de bolsonaristas. Quantas mais precisam surgir para Jair, um conspirador assumido, ser tratado pela Justiça como tal e, portanto, o principal réu deste caso?

A minuta permitiria ao seu antigo chefe convocar as Forças Armadas em caso de perturbação de caos. Caos que poderia surgir, por exemplo, através de uma horda de bolsonaristas que invadisse e vandalizasse o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional e o Supremo Tribunal Federal no dia 8 de janeiro.

Ou com uma bomba que explodisse o aeroporto de Brasília colocada em um caminhão de combustível por bolsonaristas no dia 24 de dezembro. Ou ainda com a queima de ônibus e veículos na capital federal por bolsonaristas no dia 12 de dezembro após a diplomação de Lula.

A minuta, revelada pela GloboNews e pelo jornal O Globo, estava em mensagens trocadas entre Cid e o sargento Luís Marcos dos Reis - ambos presos na operação que investiga a fraude nos registros de vacinação de Bolsonaro. Também foram encontradas propostas sobre como convencer a cúpula do Exército a entrar na empreitada.

A primeira minuta golpista foi encontrada na casa do ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Anderson Torres. Ele já tinha sido alvo de uma ordem de prisão por se omitir como secretário de Segurança Pública do Distrito Federal diante da depredação das sedes dos poderes da República quando a PF encontrou o rascunho de um decreto a ser baixado pelo então presidente.

O objetivo seria permitir que as Forças Armadas interviessem no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e melassem a eleição vencida por Lula.

Torres tratou o documento como uma bobagem que lhe foi entregue e ele esqueceu de jogar no lixo. A questão é que o texto ganha ainda mais sentido quando visto como segunda etapa da decretação de uma GLO (Garantia da Lei e da Ordem) prevista na primeira minuta do celular de Cid.

Isso leva a uma questão: quantas minutas precisarão aparecer mais para Jair Bolsonaro ser tratado pela Justiça como o principal réu de uma malfadada conspiração para golpe de Estado?

Vai precisar que ele faça uma live dizendo: "Olha, eu tentei um golpe sim, e daí? Mas não funcionou. Vão continuar a ficar de mimimi?"

E vale lembrar que Jair já deixou claro que não seria tão explícito. "Quem quer dar um golpe jamais vai falar que vai dar." Foi assim que Jair reagiu quando José Luiz Datena, na TV Bandeirantes, quis saber, em março de 2020, se ele daria um golpe.

A "confissão" não acontecerá, mas os fatos falam por si. Recentemente, pudemos ler conversas sobre um golpe de Estado entre o ex-major Ailton Barros, amigão do ex-presidente, com Mauro Cid. Depois, o coronel da reserva Élcio Franco, homem de confiança do governo, que foi colocado como secretário-executivo do Ministério da Saúde para ajudar o general Eduardo Pazuello, apareceu na história.

Barros e Franco discutiram por áudios as possibilidades para um golpe de Estado, incluindo a mobilização de 1,5 mil militares a prisão do ministro Alexandre de Moraes. As conversas, que fazem parte dos áudios encontrados nos celulares apreendidos, divulgadas inicialmente pela CNN Brasil.

Bolsonaro fomentou por anos uma tentativa de golpe de Estado, mas tenta se livrar do xilindró terceirizando as responsabilidades para quem é fiel a ele, como Torres, Cid e Barros. Todos, até agora, vêm mantendo a lealdade a um político conhecido por abandonar seus amigos na beira da estrada quando não lhes são mais úteis.

Seus seguidores fiéis tampouco enxergam a tentativa de golpe de Jair como tal, mas como uma ação para libertar o Brasil de um golpe de Estado que teria sido dado por Lula ao fraudar as eleições. Sentimos muito por uma parcela dos brasileiros viver mergulhada no tóxico Bolsoverso. Mas à Justiça não é dado o mesmo direito à insanidade.

E, com mais uma minuta, a situação fica complicada para os bolsonaristas na CPMI dos Atos Golpistas.

Eles tentam culpar a vítima pela invasão, afirmando que os prédios públicos não estavam suficientemente protegidos de propósito - o que serve para jogar uma cortina de fumaça sobre quem organizou a tentativa de golpe em si. É o equivalente a culpar o dono da casa assaltada pelo muro não ser tão alto enquanto passa pano para o ladrão.

O fato é que mais uma minuta de golpe e Jair Bolsonaro e aliados poderão pedir uma música no Fantástico.