Leonardo Sakamoto

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Opinião

Promiscuidade de Bolsonaro no MEC é alerta para casório de Lula com centrão

Sob Bolsonaro, o Ministério da Educação virou cabeça de ponte para guerra cultural e foco de corrupção de aliados. Como esquecer o icônico áudio do então ministro Milton "Tiro Acidental" Ribeiro afirmando que Jair havia pedido para atender às necessidades de seus amigos pastores, que usaram o ministério para cobrar propina em ouro de prefeitos?

Agora, o Tribunal de Contas da União (TCU) pede a anulação de R$ 7,2 bilhões em liberações de obras sem critérios técnicos, segundo reportagem de Constança Rezende e Paulo Saldaña, na Folha de S.Paulo desta quinta (12).

Sem querer ser moralista, a profusão de denúncias de promiscuidade envolvendo o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que era dirigido por um ex-assessor do então ministro-chefe da Casa Civil e líder do centrão, Ciro Nogueira (PP-PI), é um alerta para o governo Lula - prestes a celebrar um matrimônio com o centrão.

Pois há muitas formas de desviar recursos públicos para necessidades de aliados, seja via orçamento direto de órgãos públicos, seja através de emendas parlamentares que financiem obras e compras superfaturadas ou com sobrepreço, que não passam necessariamente pelo MEC. A Esplanada dos Ministérios é um lugar fértil para esse tipo de coisa.

Em entrevista à CNN, Ciro Nogueira disse que "não há hipótese" de o PP integrar o governo. Mas tudo depende do dote a ser entregue. Por enquanto, o centrão está de olho na Funasa, no Ministério dos Esportes e no Ministério do Desenvolvimento Social - que podem ser fontes de dores de cabeça futuras para Lula e assessores a depender do uso que se faça deles.

O caso do MEC lembra, inclusive, que não são apenas denúncias de joias árabes surrupiadas, desvios de recursos no Palácio do Planalto para pagamentos de contas da primeira-dama, cumplicidade em 700 mil mortes por covid-19 e conspiração contra a democracia que pesam contra Bolsonaro.

Os pastores Gilmar Santos e Arilton Moura integravam o "gabinete paralelo" montado no ministério. Descoberto o seu esquema de cobrança de propina, o ministro Milton Ribeiro caiu. Mas gravações de conversas telefônicas apontam que ele continuou sendo ajudado pelo presidente, que o avisou que a Polícia Federal estava em sua cola, atrapalhando uma investigação. O que é um crime grave.

Uma CPI do MEC chegou a ser aberta, mas, por conta de acertos políticos, sua instalação ficou programada para acontecer após as eleições. Ou seja, não rolou. Ao tentar impedir que ela acontecesse, uma parte do Congresso não estava defendendo Jair, mas protegendo a si mesma. Sim, não só pastores lucraram com o Ministério da Educação, mas principalmente o centrão, que agora muda de lado.

Por exemplo, municípios alagoanos com escolas precárias receberam milhões em emendas parlamentares para comprar kits de robótica de uma empresa de aliados de Arthur Lira, presidente da Câmara, fiador de Bolsonaro e, agora, fiador do governo Lula, em escândalo revelado pela Folha.

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E como esquecer a multimilionária licitação de quatro mil ônibus escolares que, se não fosse por denúncia do jornal O Estado de S.Paulo, teriam feito a alegria de muita gente?

A pior sacanagem é que toda essa promiscuidade na Educação ocorreu após uma pandemia que afastou por quase dois anos estudantes das salas de aula gerando uma defasagem em escolas públicas que já seria difícil de ser corrigida sob um governo e um Congresso funcionais que destinassem o dinheiro de universidades para as universidades. Imagine então com os que a gente tinha.

Os recursos públicos poderiam ter ido para recuperar o tempo perdido. Poderiam. Mas isso qualquer gestor honesto faria. O que vemos é que a grana que seria usada para garantir carteiras, água encanada, energia elétrica, internet e banheiros nas escolas se transmutou em propinas e desvios. É o milagre do bolsonarismo.

Enquanto isso, parte da militância radical bateu palmas para o bloqueio de verbas para universidades, que via como "cracolândias comunistas" e não como locais que desenvolvem vacinas e respiradores a baixo custo que salvaram vidas da covid-19.

Mas tudo bem, é só educação.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL