Leonardo Sakamoto

Leonardo Sakamoto

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Ramagem é 2º bolsonarista cotado à Prefeitura do Rio que a PF complica

Investigações da Polícia Federal podem colocar água no chope de dois potenciais candidatos bolsonaristas à Prefeitura do Rio de Janeiro nas eleições do ano que vem: o deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-diretor da Abin e delegado da PF, e o general Braga Netto, ex-ministro-chefe da Casa Civil e companheiro de chapa de Jair no pleito de 2022.

O caso mais recente é o de Ramagem. A operação Última Milha, na sexta (20), prendeu servidores e afastou o número 3 da Agência Brasileira de Inteligência em uma investigação sobre o uso de um sistema secreto de monitoramento de celulares durante os três primeiros anos de Bolsonaro.

Jornalistas, políticos e funcionários públicos estariam entre os alvos de espionagem sem autorização da Justiça.

Na época da instituição era gerida por Ramagem. Ele afirmou, nas redes sociais, que a investigação da PF é consequência do "trabalho de austeridade" promovido pela sua administração e deseja que os desdobramentos avancem "atinentes a fatos, fundamentos e provas, não se levando por falsas narrativas e especulações".

Contudo, reportagem, nesta quarta (25), de Juliana Dal Piva e Eduardo Militão, no UOL, aponta que ele barrou a demissão de dois servidores da Abin investigados por espionagem. A PF analisa se que a Abin (leia-se, Ramagem) teria sido chantageada por ele devido à espionagem ilegal.

Próximo do clã Bolsonaro, o deputado é, hoje, cotado a disputar a Prefeitura do Rio, em 2024, com o apoio do ex-presidente e de seus filhos.

"Não acredito que o Ramagem esteja envolvido nisso [espionagem]. Ramagem é um policial sério e ele seria o ideal para ir para a Prefeitura do Rio de Janeiro", disse Valdemar Costa Neto, em entrevista ao SBT, nesta terça (24).

A posição do presidente do PL, contudo, vinha sendo outra. Por exemplo, no dia 5 de outubro, após a morte de três médicos, um deles, o irmão da deputada federal Sâmia Bomfim (PSOL-SP), em um quiosque na Barra da Tijuca, Valdemar defendeu Braga Netto para a disputa. "É um dos motivos que o Rio vai querer o Braga Netto", disse, segundo Lauro Jardim, em O Globo.

O general resiste à ideia de candidatura, alegando questões familiares.

Continua após a publicidade

Tal como Ramagem, a Polícia Federal também respingou em Braga Netto. No dia 12 de setembro, a operação Perfídia cumpriu 16 mandados de busca e apreensão em uma investigação sobre fraudes na compra de coletes durante a intervenção federal em 2018, chefiada por ele. O general teve o sigilo telefônico quebrado.

O objeto foi a dispensa ilegal de licitação para a compra de 9.360 coletes à prova de bala, adquiridos com um sobrepreço de R$ 4,6 milhões no finalzinho da intervenção de uma empresa norte-americana. Segundo o general, devido a irregularidades, o contrato foi posteriormente cancelado. Mas isso não faz o caroço desaparecer do angu, nem de uma eventual campanha eleitoral em 2024.

Vale lembrar que foi sob as barbas do general que a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Torres foram executados em março de 2018.

Outros nomes que circularam como hipóteses no PL foram descartados: os do senador Flávio Bolsonaro e do deputado federal e ex-ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello.

Em julho deste ano, o ministro Gilmar Mendes, do STF, mandou desarquivar uma investigação sobre omissões do governo Bolsonaro na pandemia de covid-19, que inclui Pazuello. O Brasil teve mais de 700 mil mortes pela doença.

Independente do nome escolhido pela oposição, com a candidatura de Eduardo Paes (PSD) à reeleição do Rio, que contará com o apoio do presidente Lula, o bolsonarismo não terá vida fácil. Ainda mais com a quantidade de esqueletos deixados no armário dos seus expoentes, que, agora, a PF começa a trazer à luz.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL