Leonardo Sakamoto

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Opinião

Problema não é branco morar no McDonald's, mas negro ser maltratado por lá

Não há crime sendo cometido pelas duas mulheres, mãe e filha, que estão morando em uma unidade do McDonald's, no chique bairro do Leblon, no Rio de Janeiro. Crime é quando uma empresa acolhe pessoas brancas e enxota outras, negras ou pobres.

Em entrevista ao podcast "Fala, Guerreiro!", Bruna Moratori, de 31 anos, disse que gosta de morar na lanchonete, mas que a situação é temporária. Afirmou que recebeu uma proposta para trabalhar lá quando o gerente a viu conversando em inglês com um estrangeiro, mas que recusou. Criticou o preconceito de moradores do bairro. E atestou que funcionários não teriam se incomodado com a presença de ambas.

Mesma sorte não tiveram outras pessoas em unidades da rede.

Um atendente teria negado a venda de sorvetes para uma avó e duas crianças negras em uma loja do McDonald's em um shopping de Campinas, interior de São Paulo, em outubro de 2022. A justificativa, segundo o jornal O Estado de S.Paulo, era de que o produto tinha acabado, mas logo depois ele teria sido vendido normalmente a uma outra família, branca.

Fernanda da Silva reclamou que foi impedida de comprar um sorvete para os dois filhos pelos seguranças de uma lanchonete do McDonald's na Vila Mariana, bairro de classe média de São Paulo, em março de 2019. Segundo ela, foi enxotada por ter sido confundida com alguém que estava pedindo esmola. Testemunhas tentaram chamar a polícia, como relatou a Folha de S.Paulo, mas ela não veio.

Quem adivinhar a cor de pele de Fernanda ganha um sorvete de creme do Méqui.

E não é de hoje. A 1ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo chegou a condenar de forma unânime, em 2014, a empresa a pagar uma indenização de R$ 5 mil por danos morais porque um menino foi retirado por seguranças de uma de suas unidades ao ser confundido com uma pessoa em situação de rua, como relatou o Consultor Jurídico.

As duas mulheres no Leblon não seriam novidade no Japão, na China ou nos Estados Unidos, onde pessoas que não têm onde morar utilizam unidades 24h do restaurante para dormir ou passar o dia. Isso é tão comum que até um termo foi cunhado: McRefugiados.

Em muitos lugares do mundo, há refugiados e refugiados, e clientes e clientes, com tratamento diferente a depender da cor de pele ou classe social. Aqui, como sabemos, é um desses lugares.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL