'Dividir para reinar' de Lula acentua disputa entre Haddad e Costa
Todo governo tem intrigas. Disputas intestinas de poder são intrínsecas a qualquer gestão, pública ou empresarial. Boa parte do noticiário brasiliense é alimentado pelos ataques "em off" de um lado contra outro. Não raro, o próprio governante estimula o conflito interno, pelo menos desde o Império Romano: "Divide et impera" - é o lema atribuído a Júlio César. É do jogo.
Problema é a divisão ser tão grande que emperra o reinado, arranca a toga do governo e deixa o imbróglio visível a olho nu.
É o que está acontecendo por causa do conflito cada vez mais aberto entre o ministro chefe da Casa Civil e seu colega da Fazenda. Lula, se vê o embate, faz de conta que não e deixa rolar. Rui Costa e Fernando Haddad se tratam com urbanidade, mas os sinais da divergência entre os dois se tornaram cotidianos.
Passam pelo controle das verbas do orçamento, pela nomeação e demissão de pessoas em postos-chave do governo, por decisões administrativas e até pelo privilégio de anunciar medidas.
Foi o que aconteceu em São Leopoldo (RS), durante a divulgação de ações para ajudar o Rio Grande do Sul: Rui Costa tomou o microfone e anunciou projetos que, em tese, caberiam a Haddad anunciar, como a renegociação de dívidas com o governo federal.
Até aí, eles que são ministros que se entendam. Mas as picuinhas revelam um racha muito mais profundo e cada vez mais difícil de transpor. Rui Costa precisa que o governo gaste mais para viabilizar as obras do PAC 3 em tempo de terem impacto na sucessão em 2026. Haddad precisa equilibrar receitas e despesas do governo para animar também os investimentos privados.
Embora o objetivo eleitoral seja o mesmo, os caminhos que cada ministro segue estão cada vez mais distantes, como duas estradas após uma bifurcação:
Na rota de Haddad, é melhor a Petrobras distribuir dividendos extras para aumentar o caixa do acionista, o Tesouro, e assim facilitar o equilíbrio fiscal;
Na trilha de Rui Costa, a Petrobras deve usar o dinheiro dos dividendos extraordinários para investir na exploração de petróleo na margem equatorial, ou seja, em águas amazônicas.
Evidencia-se aí outra divergência fundamental, sobre política pública. Haddad defende a descarbonização da economia, a adoção de políticas energéticas alternativas ao petróleo. Rui Costa quer furar poço na Amazônia e onde mais der.
O racha não se restringe aos dois ministros. Se estende ao governo e ao PT. Ambos fazem alianças ocasionais para cada batalha dentro do ministério. Haddad se alinha com Marina Silva (Meio Ambiente); Rui Costa, com Alexandre Silveira (Minas e Energia).
Se os dois principais ministros do governo só conversam quando Lula manda, a chance de o governo pisar na própria toga e ficar nu aumenta. O presidente parece acreditar, porém, que nem toda nudez será castigada. As urnas julgarão.
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