Leonardo Sakamoto

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Reportagem

Polícia do Pará apreende porretes que incitam o ódio vendidos em lojas

As Polícias Civil e Militar do Pará apreenderam, nesta semana, porretes com mensagens de ódio à venda em um posto de combustível, em Miritituba, distrito de Itaituba, no sudoeste do Pará. Os policiais foram a campo após uma matéria da Repórter Brasil mostrar que tacos com as inscrições "direitos humanos", "diálogo" e "respeito" eram comercializados em estabelecimentos locais.

"Claramente esses dizeres gravados nesses bastões fazem referência a atos de violência, de agressão, comumente difundidos", disse o delegado de Itaituba, Pedro Victor de Azevedo, responsável pela apreensão. Segundo ele, a comercialização desses porretes é enquadrada no artigo 286 do Código Penal, que diz respeito a incitar publicamente a prática de um crime.

"É bom esclarecer que a conduta de incitação ao crime não precisa necessariamente ser através de falas, mas também de gestos e, como neste caso, de escritos", detalhou o delegado.

Miritituba é um distrito de Itaituba, localizado no entroncamento das BR-163, a rodovia da soja, e da BR-230, a Transamazônica. Com vários postos de combustível, a região é rota obrigatória dos caminhões carregados de soja que vêm do Mato Grosso e descarregam os grãos nos portos na margem do Rio Tapajós.

O local fez parte da rota da equipe da Repórter Brasil, que percorreu 6 mil quilômetros entre o norte do Mato Grosso e o Sul do Pará, para uma série de reportagens sobre a aliança entre o bolsonarismo e a banda truculenta do agronegócio na Amazônia. A investigação lista produtores rurais ligados a uma série de violações: de crimes ambientais, passando pelo envolvimento na tentativa de golpe de estado em 8 de janeiro de 2023, à criação de milícias rurais contra povos tradicionais e trabalhadores sem terra.

Os porretes foram fotografados em um posto com a bandeira da rede Ipiranga. Procurada antes da publicação, a companhia enviou nota dizendo "que não compactua e repudia a venda de qualquer material ou item que faça apologia a qualquer tipo de violência". O texto informa ainda que o revendedor, depois de notificado, teria retirado os produtos da área de venda.

Porretes encontrados pela reportagem em posto de gasolina no entroncamento entre a BR-163 e a Transamazônica, em Itaituba (PA)
Porretes encontrados pela reportagem em posto de gasolina no entroncamento entre a BR-163 e a Transamazônica, em Itaituba (PA) Imagem: Daniel Camargos/Repórter Brasil

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A Polícia Civil, contudo, não informou em qual posto de combustível de Miritituba foram apreendidos os porretes nesta semana. Os artefatos recolhidos pela polícia paraense tinham grafadas as palavras "motivação", "respeito" e "rivotril", este último o nome comercial de um medicamento tranquilizante à base de clonazepam.

Durante a ação, os policiais ouviram o gerente do estabelecimento. Em depoimento, ele afirmou que não comercializaria mais este tipo de material. Segundo a Polícia Civil, o proprietário do estabelecimento será intimado para dar continuidade às investigações.

O Pará vai receber a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-30), em 2025. O Estado se apresenta como a porta de entrada da Amazônia, mas aparece nas primeiras colocações em rankings de desmatamento, trabalho escravo e violência contra trabalhadores rurais e indígenas. Com isso, o poder público tem se preocupado com sua imagem perante o mundo, e a venda de porretes com discurso de ódio não contribui para isso.

Tacos com as mesmas inscrições já foram flagrados nas mãos de seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro, como no caso de uma mulher com a bandeira do Brasil e outra dos Estados Unidos, em uma manifestação na avenida Paulista, em São Paulo, em 2020, que acabou sendo retirada pela polícia. A venda de tacos com as mesmas inscrições é feita livremente pela internet e os produtos aparecem em vídeos postados por grupos de extrema direita nas redes.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.