Leonardo Sakamoto

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Opinião

Há latifúndio sem dono em SP enquanto Boulos espera que Lula chova na horta

O esperado clima de polarização nacional da eleição de São Paulo foi antecipado do segundo para o primeiro turno, como mostram as recentes pesquisas que, por enquanto, apontam um empate triplo na primeira posição, na margem de erro, entre Guilherme Boulos (PSOL), aliado de Lula, e Pablo Marçal (PRTB) e Ricardo Nunes (MDB), que disputam o voto bolsonarista.

Não à toa o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) antecipou a discussão sobre o voto útil.

Desde 1994, a polarização política se deu entre PT e PSDB, quando foi quebrada pelo impeachment de Dilma Rousseff, a Lava Jato, a prisão de Lula e a ascensão de Jair Bolsonaro em 2018. Cientistas políticos preferem usar o termo "ultrapolarização" para tratar do que vem acontecendo, com dois grandes campos, à esquerda e à extrema direita, reunindo mais da metade da população.

A ultrapolarização faz dobradinha com o voto útil. A onda Pablo Marçal, que rachou o bolsonarismo e colocou em xeque a posição do prefeito no segundo turno, obrigou o governador Tarcísio de Freitas, num cálculo frio, mirando não apenas as eleições de 2026, mas também o seu poder político até lá, vir a campo e defender o voto útil do campo da direita. Sabe que terá problemas se Marçal vencer.

Ao mesmo tempo, a campanha de Ricardo Nunes foi para cima de Marçal, com os fazendeiros de seu latifúndio de rádio e TV semeando a desconfiança entre os eleitores, pedindo para que procurem no Google as relações do seu adversário com o PCC e seu histórico criminal de furto qualificado. Isso somado à superexposição na mídia, à ação de vereadores de sua base nas periferias e ao uso da máquina municipal, o ajudou a recuperar um pouco a intenção de voto.

A questão é se esse movimento de Nunes para cima de Marçal não aconteceu cedo demais, perdendo efeito diante de uma segunda possível onda do ex-coach.

Mesmo após o bloqueio de suas redes sociais pela Justiça Eleitoral, ele conta com um engajamento superior à soma dos adversários. Além disso, conseguiu se aproveitar politicamente do ato de sábado (7), na avenida Paulista, produzindo vídeos que geraram milhões de visualizações — mesmo impedido pelo pastor Silas Malafaia de sequestrar a imagem de Bolsonaro no caminhão de som.

A partir de domingo (15), com o debate na TV Cultura, recomeça a bateria de dedo no olho e gritaria que permite a Marçal fazer seus cortes, o que pode ajudá-lo a vencer a queda de braço de popularidade no campo bolsonarista.

No Datafolha de 5 de setembro, o ex-coach havia crescido nesse grupo, tendo passado de 44% para 48% na preferência dos eleitores do ex-presidente. Nunes, apoiado (sic) por Jair, oscilou de 30% para 31% nesse grupo. Há ainda terreno para o empresário com um discurso que, no conteúdo, mistura uma versão motivacional da teologia da prosperidade, antipolítica e propostas inexequíveis e, na forma, agressividade, lacração e cortes de vídeos voltados às redes sociais.

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A questão é se ainda vai existir bambu para as flechas de Nunes, que agora se agarra em Bolsonaro mais do que filhote de bicho-preguiça na mãe, para estar no segundo turno.

Mas e o outro lado da polarização?

Guilherme Boulos segue numericamente à frente nas principais pesquisas, mas os programas de rádio e TV, que o colam ao presidente Lula (que venceu Bolsonaro por 54% a 46% na capital paulista em 2022) ainda não surtiram o efeito esperado.

A campanha diz à coluna que isso já está acontecendo, e cita o exemplo de Fernando Haddad (PT), na eleição de 2018, quando sua associação com Lula demorou a colar. Por vias das dúvidas, Lula vai aterrissar outras vezes em Congonhas para dizer às periferias que ele é Boulos. Enquanto isso, a campanha na TV martela que Marta, popular na periferia, é candidata à vice de Boulos.

O último Datafolha apontou que, em uma escala de posicionamento político, 28% dos paulistanos se identificam com o bolsonarismo e 42%, com o petismo. Destes, 21% se dizem muito bolsonaristas ao passo que 27% se dizem muito petistas. Os bolsonaristas estão divididos entre Marçal e Nunes, mas não faz sentido os petistas estarem com outros candidatos.

O prefeito Ricardo Nunes tem 28% das intenções de voto entre os que recebem até dois salários mínimos, enquanto Boulos marca 19%, e Marçal, 17%. Como a margem de erro nesse segmento é de cinco pontos percentuais, há empates técnicos. A questão é que a pesquisa também mostrou que aqueles que se identificam com o PT representam 49% daqueles que ganham até dois salários mínimos.

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Ou seja, Boulos ainda tem uma grande parte da chamada "fortaleza petista", ou seja, a camada mais pobre da população, para buscar votos.

Na pesquisa com resposta espontânea, sem dar opções, Boulos tem 38% entre os que se identificam com o PT, Nunes tem 8%. Na estimulada, Boulos registra 45% entre os petistas e Nunes, 19%. Dos que dizem preferir o PT, 42% afirmam conhecer Boulos muito bem, mas 24% ainda afirmam que conhece um pouco, 22% só ouviu falar e 12% desconhecem, também segundo o Datafolha.

Apenas 52% dos que pretendem votar em Nunes disseram que estão decididos, enquanto a taxa sobe para 75%, com Boulos, e 70%, com Marçal.

O candidato de Lula pode recuperar esses votos que são dados ao atual prefeito e a outros candidatos por eleitores que acreditam que estão votando em alguém ligado ao presidente e ao seu partido. Por isso, a necessidade da chuva de Lula na horta de Boulos.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL