Leonardo Sakamoto

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Opinião

Quedas no desemprego e no preço da comida tornam Lula sexy para candidatos

O poder do presidente Lula em influenciar na eleição de aliados em outubro deste ano está relacionado à percepção da melhoria da qualidade de vida entre os trabalhadores e não a ele estar presente em comícios com execução do Hino Nacional em linguagem neutra ou negociar a solução da crise venezuelana com Nicolás Maduro.

Não é à toa, portanto, que o petista esteja celebrando a queda na taxa de desemprego, que atingiu o menor patamar desde o início da série histórica, iniciada em 2012, para um trimestre encerrado em julho, com 6,8%. Da mesma forma, comemorou o rendimento médio real de 4,8% em um ano.

A renda dos domicílios sobe, desemprego cai, PIB cresce, dívidas estão sendo renegociadas e encolhidas com o programa comandado pelo governo. Contudo, isso não se traduz, necessariamente, em alta da percepção da qualidade de vida de todos os trabalhadores. O motivo é o preço dos alimentos básicos, que havia subido bastante no último ano, mas vem arrefecendo — o que é um alívio para o Palácio do Planalto.

Dados da prévia da inflação de agosto (IPCA-15), divulgados nesta semana, mostram deflação, ou seja, queda nos preços, do grupo de alimentos e bebidas (-0,8%), principalmente de alimentação em domicílio (-1,3%). Em 30 dias, caiu o preço do arroz (-1,18%), do feijão preto (-2%), da batata (-13,1%), do tomate (-26,6%), da cebola (-11,2%) e do grupo carnes (-0,37%), entre outros produtos.

Há análises que não consideram a percepção sobre o custo de vida como uma das questões centrais para a perda de aprovação do governo Lula e olham só para a posição do presidente diante de temas como a eleição na Venezuela, as farpas com o governo de Israel ou o ajuste fiscal. Trabalhadores e suas famílias não comem indicador econômico temperado com arcabouço, tampouco se sentam à mesa de Nicolás Maduro ou Benjamin Netanyahu. Isso alimenta outras espécies, os farialimers e os bolsonaristas radicais.

A percepção sobre o custo de vida impactou negativamente a popularidade do presidente. Enquanto o bolsonarismo se esforça para tentar convencer que a picanha, usada por Lula em sua campanha eleitoral para prometer dias melhores, disparou de preço (quando, na verdade caiu, em média, desde o início do mandato do petista), o problema político está na quantidade de horas que se precisa trabalhar para comprar o arroz e o feijão do cotidiano. Ao que tudo indica, esse cálculo vem se tornando favorável para o presidente.

Ou seja, o governo vem tentando mostrar ao país que a economia melhorou apesar de o bolsonarismo bater bumbo dizendo que não. O mesmo que a campanha da democrata Kamala Harris tenta fazer nos Estados Unidos, onde o republicano Donald Trump diz que a economia do governo Joe Biden está em petição de miséria, quando os dados econômicos apontam que é o contrário, apesar de a inflação ter aumentado o custo de vida.

Lula conseguiu ser eleito porque uma parte dos eleitores, que não são petistas, nem bolsonaristas, também acreditou em sua promessa de dias (de compras) melhores. A percepção dessa melhora da qualidade de vida é o principal elemento que pode aumentar o poder de Lula em influenciar na eleição deste ano. Quando melhor estiver, mais o petista estará "sexy" para candidatos a vereador ou a prefeito.

Não por acaso, a campanha de TV de Guilherme Boulos (PSOL) começou com o Lula comendo bolo em sua casa.

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Mas também em 2026. Se o preço da comida, o emprego e a renda estiverem bem, vai ter governador de estado que irá preferir a reeleição garantida do que disputar com o petista ou com o seu provável sucessor, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Caso contrário, Lula terá companhia, com ex-coach e tudo.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL