Pior que crack, bets espremem brasileiro e largam bagaço para Estado cuidar
Vício em crack e em bets e caça-níqueis online destroem vidas, esfarelam famílias e espremem trabalhadores até o bagaço, que, depois, o Estado terá que cuidar. A diferença é que, para conseguir o psicoativo, a pessoa se coloca em risco de ser presa ou coisa pior. E o segundo está a um celular de distância. Não apenas é legal, como há parlamentares, empresários e gente no governo que esfregam as mãos de olho nas possibilidades de receita.
Ofertados em horário nobre na TV, as casas de apostas e os jogos de azar estão onipresentes nas redes sociais, estampam camisas de times de futebol, contam com influenciadores enganando a população com promessas de dinheiro fácil e ajudam até a bancar o jornalismo através de seus anúncios.
A Folha de S.Paulo mostra que os brasileiros devem destinar às casas de apostas, apenas via Pix, um total de R$ 216 bilhões — o estimado originalmente, pelo Ministério da Fazenda, era R$ 150 bilhões. E em uma análise sobre o mercado de jogos de azar e apostas online no Brasil, o Banco Central destacou que 5 milhões de beneficiários do Bolsa Família destinaram R$ 3 bilhões às casas de apostas virtuais apenas no mês de agosto.
Todos devem ser livres para fazer o que quiserem com o seu dinheiro, mas o poder público e a sociedade não podem fazer cara de paisagem diante de um negócio que vende ilusões para tirar a grana dos cidadãos. Com propagandas reluzentes que trazem gente bonita e conhecida, prometendo mundos e fundos, claro que uma população de trabalhadores empobrecidos tentaria a sorte e se afundaria no azar.
Sob a justificativa de que são um fato consumado, elas não voltarão a ser proibidas, mas serão reguladas. A questão é que uma regulação para ser decente deveria taxar as operações dessas empresas em nível suficiente para garantir recursos para o Sistema Único de Saúde, que já tem problemas para tratar os trabalhadores-bagaço, e a fundos para reparar os danos causados ao tecido social. O que, claro, tornaria o negócio inviável.
O mais urgente, contudo, é proibir anúncios de bets e casas de apostas na TV, no rádio, em sites e portais, nas plataformas digitais. Há projetos de lei tramitando no Congresso nesse sentido. Apenas campanhas de informação sobre bets não vão fazer frente ao bombardeio que elas fazem nas propagandas. O problema é que, quando se fala disso, há os que bradam, indignados, o nome da liberdade. Liberdade para surrupiar, no caso.
Por lei, a propaganda de tabaco é proibida na TV há 20 anos e ninguém morreu por causa disso. Pelo contrário, isso evitou óbitos.
É cômico quando as empresas dizem que têm preocupação com os dependentes em jogos uma vez que a operação desse tipo de empreendimento depende de apostas feitas de forma compulsiva. Tão inútil quando o "beba com moderação" das propagandas de álcool é o "jogue com responsabilidade", que algumas bets já trazem em seus anúncios.
O uso abusivo em jogo e em drogas deveria ser encarado com uma questão de saúde pública, mas o primeiro é visto como oportunidade pelos parlamentares e o outro, como crime.
Repito o que já disse aqui: para uma parte dos legisladores que apoiam os jogos de azar online, contudo, desgraça é a maconha, que eles xingam entre um copo de uísque e outro. Na realidade, um usuário frequente de bets pode acabar com a própria vida e a da sua família. O de maconha, na maioria das vezes, acaba com o resto do pudim que estava na geladeira misturando-o com o feijão.