Nunes é última vítima de Marçal, o 'boxeador' que bate abaixo da cintura
Pablo Marçal tem se dedicado, desde o início da campanha, a ataques psicológicos contra seus adversários no intuito de tirá-los do sério. Como parte do eleitorado, principalmente o bolsonarismo-raiz e uma parte dos jovens, está mais interessada em ver o pau comer do que em propostas para São Paulo, bater abaixo da cintura funciona. Desta vez, o alvo foi Ricardo Nunes.
O prefeito realmente deve uma explicação aos cidadãos sobre o boletim de ocorrência de violência doméstica registrado por sua esposa anos atrás. O documento já foi confirmado pela Secretaria de Segurança Publica, mas, mesmo assim, Nunes nega.
Marçal perguntou insistentemente sobre o caso no debate UOL/Folha. Não para ter uma resposta, que viria pasteurizada pelo media training, mas para tentar quebrar o prefeito. Ele percebeu que Nunes fica irritado com a questão quando jornalistas e adversários o questionam sobre isso e procurou remexer a ferida. Não em nome da transparência, mas de tirar o prefeito do sério.
Tanto que o influenciador copiou a mesma tática discursiva que empregou contra José Luís Datena, momentos antes de levar uma cadeirada no debate da TV Cultura, repetindo a Nunes um "seja homem".
A expressão é algo que já não faz sentido para muita gente que entende que a diferença entre provocação de quem faz bullying e uma latinha com fezes é a latinha. Contudo, ainda funciona como um chamado à ação violenta em parte daqueles que foram formados no caldo cultural do machismo — como minha geração e as anteriores.
Marçal queria que Nunes perdesse a estribeira, fato que seria usado em muitos cortes de vídeo em suas redes. O prefeito não atendeu a esse chamado, mas não significa que não sentiu. Pelo relatos que vieram durante e depois do debate, sentiu sim.
Marçal provocou Datena no debate até o limite, resgatando um caso de denúncia de assédio sexual que foi arquivado, mas que, segundo o apresentador, causou dor em sua família. Também sugeriu que ele seria um estuprador. Quando o jornalista avisou que o ex-coach havia ultrapassado todos os limites, aí é que este soltou a boiada dos ataques.
Contra Guilherme Boulos, Marçal vem sistematicamente acusando-o de ser usuário de cocaína. Hoje, novamente, tentou usar uma internação do deputado federal por depressão na juventude para sugerir que ele havia sido hospitalizado por vício em drogas. Boulos estava levando bem o caso até que as mentiras do influenciador fizeram com que suas filhas sofressem ataques na escola. Nesse momento, sentiu.
Tabata Amaral foi a primeira a se tornar alvo do bombardeio psicológico de Marçal, que insinuou que ela havia sido responsável pelo suicídio do próprio pai, que era dependente de drogas. Fez a acusação mais de uma vez e, muito tempo depois, desculpou-se como se não tivesse lançado algo que causou danos à deputada e sua família.
Ao que tudo indica, Marçal não é um sádico. Mas para bombar sua candidatura, ele não tem escrúpulo algum. E o ponto em comum de todos os casos descritos acima é a família de cada um dos adversários. O que, para muito político, é considerado jogo sujo.
O influenciador parece se importar menos que a sua condenação de furto qualificado ou a relação do PCC com o seu partido venha à tona do que ser interrompido em meio a uma fala que será usada como corte de vídeo. Ele quer gerar barulho para pautar as redes sociais e a mídia.
A questão é que a política é feita de rancores e ressentimentos. Alguém que, para chegar lá, atropela todos ao seu redor com toques de tortura precisa tomar cuidado. Porque nunca poderá confiar em ninguém.