Pacificação do Brasil passa por generais golpistas condenados e no xilindró
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, autorizou, nesta segunda (2), a transferência do general Mario Fernandes, que estava preso no Rio desde que uma operação da Polícia Federal mostrou que ele esteve à frente de um plano para envenenar Lula, executar Alckmin e explodir Alexandre de Moraes.
A prisão é provisória e ele ficará no Comando Militar do Planalto, em Brasília. Mas podemos dizer que é uma novidade que o Brasil conte com um general, mesmo que da reserva, em cárcere por conta de um plano de golpe de Estado.
Ao todo, são sete generais e um almirante, além de uma renca de coronéis e tenentes-coronéis, indiciados por participarem da tentativa de golpe de Estado que manteria o ex-capitão Jair Bolsonaro no poder apesar de ter perdido a eleição de 2022. Há uma chance de, finalmente, vermos alguém que carrega (dos sete, um está na ativa, Nilton Rodrigues Diniz) ou carregou estrelas nos ombros julgado, condenado e preso por atentar contra a democracia.
Isso, claro, se não prosperar o conversê fajuto de anistia. Há militares, como Braga Netto, que caíram em desgraça com uma parte da cúpula fardada ao incentivar assédio contra militares que não aderiram ao golpismo, a exemplo do general Freire Gomes, então comandante do Exército. Outros ainda são bastante respeitados, como Augusto Heleno. Como isso não é um concurso de popularidade, mas sim um julgamento por golpe de Estado, o sentimento das tropas e da cúpula militar pouco deveria importar.
O que pode ajudar, neste momento, a encurtar a distância de Bolsonaro e dos generais golpistas para o xilindró é o clima de "salve-se quem puder" que está se instalando entre os antigos aliados.
Para surpresa de absolutamente ninguém, a defesa do ex-presidente está trabalhando com a ideia de "golpe dentro do golpe", ou seja, os militares usariam-no para assumirem o poder e, depois, o descartariam. Nessa narrativa, ele seria, ao lado do Estado democrático de direito, uma vítima.
"Quem seria o grande beneficiado? Segundo o plano do general Mario Fernandes, seria uma junta que seria criada após a ação do 'Plano Punhal Verde e Amarelo' e, nessa junta, não estava incluído o presidente Bolsonaro", disse um dos advogados de Bolsonaro, Paulo Amador da Cunha Bueno, em entrevista à GloboNews nesta sexta (29). Entre os militares, os generais Augusto Heleno e Braga Netto.
O próprio Braga Netto, após ser indiciado pela Polícia Federal, soltou uma nota mais preocupada em negar o "golpe do golpe", que já circulava pelas redes bolsonaristas, do que o golpe em si. E retrucou, dizendo que "manteve a lealdade ao presidente Bolsonaro até o final do governo, em dezembro de 2022, e a mantém até os dias atuais". Ou seja, um aviso de que o destino de um é o destino de todos.
Lembrando que o golpe não surgiu de um Bolsonaro que contaminou os militares ou de militares que manipularam o pobre Jair, mas é fruto de uma parceria entre os dois lados. Então, quanto mais brigarem, melhor para a democracia.
Há militares legalistas que se moveram para impedir o golpe bolsonarista. E fincaram pé em seus comandos pela democracia. E precisam ser lembrados. Mas é importante ressaltar que militares formam um dos pilares do bolsonarismo. O ex-presidente não criou a extrema direita golpista, apenas deu a ela organização e sentido através de sua eleição em 2018. Inclusive nas Forças Armadas.
Como venho repetindo, o golpismo militar de 1964 criou Bolsonaro, que se associou a um numeroso contingente das Forças Armadas para governar, manter privilégios e atacar a democracia. As intentonas que vemos hoje são ainda fruto da nossa incompetência como nação de julgar e punir o que, em 2024, completou 60 anos.
Que isso nos lembre que o Brasil não vai "pacificar" se anistiar civis ou militares golpistas. Pelo contrário, vai manter acesa a chama da conspiração contra a democracia. Que essa palavra seja enterrada. Anistia, hoje, é apenas uma forma de xingar os brasileiros de burros.