Leonardo Sakamoto

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Opinião

PM mata pelas costas e joga jovem de ponte por saber que Tarcísio o protege

Quem diria que dois anos de incentivo da gestão Tarcísio de Freitas a uma política de segurança pública em que a letalidade policial é central levaria policiais militares a acreditarem que podem matar impunemente em São Paulo, não é mesmo?

Em um vídeo que viralizou nas redes sociais, policiais arremessaram uma pessoa do alto de uma ponte na Cidade Ademar, na zona sul da capital paulista, na madrugada desta segunda (2). Em outro, Gabriel Renan da Silva Soares, um homem negro de 26 anos, foi executado com 11 tiros nas costas por um policial à paisana no Jardim Prudência após furtar sabão em uma unidade do Oxxo.

Onze tiros nas costas não é legítima defesa, mas ódio, descontrole e certeza de impunidade.

O mesmo governador que postou, nesta terça (3), nas redes sociais, que policial "que atira pelas costas, aquele que chega ao absurdo de jogar uma pessoa da ponte, evidentemente não está à altura de usar essa farda" e que "esses casos serão investigados e rigorosamente punidos" afirmou o seguinte, em março, quando organizações da sociedade civil foram ao Conselho de Direitos Humanos da ONU para acusar operações policiais de violarem direitos básicos, principalmente de negros e pobres:

"Sinceramente, nós temos muita tranquilidade com relação ao que está sendo feito. E aí o pessoal pode ir na ONU, na Liga da Justiça, no raio que o parta que eu não tô nem aí".

Agora, o bicho pegou tão forte com os vídeos da execução pelas costas e do homem arremessado da ponte, mostrando que parte da tropa saiu do controle, que o próprio secretário de Segurança Pública Guilherme Derrite compartilhou um vídeo se justificando:

"Ações isoladas como essa não podem denegrir a imagem de uma instituição que tem quase 200 anos de bons serviços prestados para a nossa população no Estado de São Paulo. Não vamos tolerar nenhum tipo de desvio de conduta de nenhum policial no Estado de São Paulo", disse.

O que o secretário chama de "desvio de conduta", na verdade, é consequência de uma política em que se mata primeiro e questiona-se depois. O desvio de conduta é do governo de São Paulo, que incentiva e permite esse tipo de ocorrência ao defender o quebra e arrebenta como procedimento e que passa pano em agentes de segurança violentos.

No dia 5 de novembro, Ryan, de apenas 4 anos, já havia sido morto com um tiro de fuzil na barriga durante uma ação policial, em Santos (SP), enquanto jogava bola com o irmão e os amigos em frente à sua casa nesta terça (5). O pai dele, Leonel Andrade, tinha sido morto, nove meses antes, em outra operação policial na mesma comunidade pobre - tinha uma deficiência física e usava muletas.

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Na época do assassinato de Ryan, o governo paulista disse que "as mortes em decorrência de intervenção policial são resultado da reação de suspeitos à ação da polícia". Ora, se a morte é prova de culpa, o cano da arma do agente de segurança tem o poder de investigador, promotor, juiz e carrasco. Parte das classes média e alta, que vê contagem de corpos como indicador de sucesso, não perdeu uma noite de sono com Ryan.

O que chamou a atenção dos mais ricos para o tema da violência policial recentemente foi o assassinato do estudante de medicina Marco Aurélio Acosta, de 22 anos, com um tiro à queima-roupa, em um hotel na Vila Mariana, no dia 20 de novembro. Imagens de câmeras mostram que ele não representava risco aos policiais ou a outras pessoas, mas recebeu um tiro fatal mesmo assim.

Diante da repercussão negativa da morte de um jovem mais rico, a Secretaria de Segurança Pública se mexeu. Informou que os policiais militares Guilherme Augusto Machado e Bruno Carvalho do Prado foram indiciados por homicídio e estão afastados das atividades operacionais.

Enquanto isso, São Paulo vai sendo controlado aos poucos pelo PCC. Seja se infiltrando em instituições municipais, como no Guarujá, segundo o Ministério Público, seja fornecendo policiais corruptos para atuarem para facção criminosa. O delator morto em plena luz do dia no terminal 2 do aeroporto internacional, em Guarulhos, foi paradigmático.

Não há governo moderado possível com a linha adotada pelo secretário Guilherme Derrite. Com ela, os policiais entendem que há licença para matar. Os mais pobres já sabem disso, uma vez que a imensa maioria das mais de 500 vítimas da letalidade policial neste ano era das periferias.

A menos que Tarcísio de Freitas e Guilherme Derrite interrompam a permissão tácita para matar nas periferias, casos como esses vão continuar acontecendo. Matar dá voto em São Paulo. Espero que ambos não continuem pensando só em 2026.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL