Letícia Casado

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Todos querem Tarcísio: Centrão disputa governador de SP de olho em 2026

Alçado a principal adversário pelo próprio presidente Lula (PT), o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), é cobiçado para se filiar a vários partidos do centrão com vista à corrida presidencial de 2026. No momento, Tarcísio é considerado o herdeiro natural do bolsonarismo, capaz de aglutinar os votos de diferentes grupos do eleitorado conservador —do centro à extrema direita.

Nos bastidores, PP e PSD fazem investidas sobre Tarcísio. O presidente do PL, Valdemar Costa Neto, já disse publicamente que filiaria o governador. Já o Republicanos, sua legenda desde março de 2022, pretende manter seu principal cacife político.

"Tarcísio não vai para o PL. Neste momento, não vai a lugar algum. Ele tem espaço aberto em outras legendas de centro, poderia escolher. Mas, por agora, não pretende concorrer à Presidência. Só vale sair [de seu partido] se o cenário mudar muito", diz uma pessoa próxima ao governador de São Paulo.

Outro conselheiro diz que Tarcísio deve, ao menos por enquanto, permanecer no Republicanos para aumentar o arco de alianças e esperar o cenário se consolidar. Uma terceira pessoa próxima ao governador diz que ele tem se mexido nos bastidores, mas que não fará gestos públicos antes de ter um cenário mais claro.

Os aliados afirmam que qualquer aceno a uma candidatura presidencial só fará sentido se Jair Bolsonaro (PL) permanecer inelegível em 2026.

A decisão de não ir para o PL passa por essa definição, resumem os aliados. Primeiro, porque Tarcísio ficaria indissociável de Bolsonaro, de quem foi ministro —carregando, portanto, seus votos, mas também sua rejeição. Segundo, o governador teria ficado incomodado com a pressão pública feita por Valdemar há algumas semanas.

Além disso, Tarcísio não precisaria estar filiado ao partido do ex-presidente para ter seu apoio. Tarcísio foi a principal e mais bem-sucedida aposta política de Bolsonaro: conquistou sua confiança mesmo tendo participado do governo de Dilma Rousseff (PT) como diretor-executivo do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes; foi lançado uma única vez a um cargo eletivo diretamente para governar o maior estado do país; e tem se colocado publicamente com outro nome forte do ex-presidente, Roberto Campos Neto, à frente do Banco Central e o principal alvo de ataques de Lula nos últimos meses.

Um cacique do centrão diz que uma candidatura ao Planalto construída com apoio de Campos Neto seria muito forte, mas não pode ser considerada imbatível. "Lula pode fazer boa gestão, segue sendo competitivo", afirma.

Progressistas quer Tarcísio

Presidente do Progressistas, o senador Ciro Nogueira (PI) diz que "no momento" o governador de São Paulo não deve trocar de legenda.

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Mas o Progressistas não escondeu sua ambição em filiar Tarcísio durante a passagem dele por Brasília em março. A visita ocorreu para apoiar a aprovação do projeto do fim das "saidinhas" no Congresso, ocasião na qual o governador fez uma peregrinação por gabinetes de aliados.

Tarcísio foi coberto de elogios, diz o presidente da legenda em São Paulo, deputado Mauricio Neves. Ele faz coro com os correligionários sobre filiar o governador: "Seria uma honra tê-lo nos quadros do partido. É muito capacitado".

O dirigente acrescenta que Tarcísio tem bom relacionamento com o partido. Como exemplo, diz que Arthur Lima, secretário da Casa Civil e braço-direito do governador, se filiou ao Progressistas no ano passado.

Maurício Neves também destaca argumentos políticos e ideológicos usados para atrair Tarcísio. Segundo ele, o partido é de direita, mas capaz de convergir para o centro e respeitar as diferenças. Também diz que no Progressistas não há espaço para "extremismo" e tampouco para "tratar os adversários como inimigos numa batalha entre o bem e o mal".

A afirmação tem um recado embutido. Durante a campanha pela reeleição, os discursos de Jair Bolsonaro descreviam a corrida presidencial como uma cruzada do bem contra o mal.

Mudança só depois das eleições municipais

A avaliação de caciques partidários é que o presidencialismo de coalizão exige alianças com legendas do centro para que um candidato vença as eleições.

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Para o Progressistas, foi este o movimento que permitiu a Lula voltar ao Planalto, diz o deputado Mauricio Neves. Ao UOL, ele afirma que a legenda é o "local ideal" para Tarcísio traçar esse mesmo caminho.

Mauricio Neves acrescenta que é natural o governador não fazer qualquer mudança antes das eleições municipais. Ele avalia que é mais racional analisar quais estratégias funcionarão e quais partidos sairão fortalecidos depois de outubro.

PL também quer Tarcísio

Tarcísio é cobiçado pelo PL de Bolsonaro, mas os rivais argumentam que esta opção significa abraçar o extremismo. Eles citam episódios de integrantes do PL já terem sido hostis ao governador, como quando Tarcísio defendeu a reforma tributária e foi xingado por deputados da legenda.

Os demais partidos que brigam pelo passe de Tarcísio têm a seu favor a facilidade de se adaptar com o governo de plantão. O Progressistas e o Republicanos compuseram a base do governo Bolsonaro e ocupam ministérios no governo Lula. Após a eleição na França, Ciro Nogueira disse que o favoritismo de Marine Le Pen não se confirmou porque ela representa a extrema direita. "O povo brasileiro não é de extremismos", escreveu ele na ocasião.

Saída de Tarcísio tem lado 'bom' para o Republicanos

Integrantes do Republicanos dizem que o governador de São Paulo não fará nenhum movimento antes das eleições municipais. A saída dele é comentada desde o começo do ano e uma filiação ao PL chegou a ser anunciada por Valdemar Costa Neto.

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Interlocutores do deputado Marcos Pereira (SP), presidente do Republicanos, dizem que, em caso de uma eventual troca de partido, o destino mais provável é o Progressistas, justamente para se afastar do radicalismo do PL.

O governador é o maior expoente do Republicanos no país, mas sua saída também teria um aspecto positivo: Marcos Pereira é pré-candidato a presidente da Câmara e a eleição está marcada para fevereiro. Para alguns aliados, fica mais difícil para ele receber os votos do PT com Tarcísio no partido, já que o governador é um potencial adversário de Lula.

Errata:

o conteúdo foi alterado

  • Versão anterior do texto informou que Tarcísio de Freitas foi ministro durante a gestão de Dilma Rousseff. A informação foi corrigida.

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