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Madeleine Lacsko

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O silêncio eloquente de Arthur Lira e Augusto Aras

Arthur Lira e Augusto Aras - Cristiano Mariz/Veja; Sérgio Lima/Poder 360
Arthur Lira e Augusto Aras Imagem: Cristiano Mariz/Veja; Sérgio Lima/Poder 360

Colunista do UOL

20/07/2022 04h00

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Confesso que fiquei muito preocupada com o Procurador-Geral da República e o presidente da Câmara dos Deputados diante do sumiço em um debate público do qual não têm o direito de se afastar.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) convocou embaixadores de nações com representação no Brasil para informar o teor de seu habeas corpus preventivo no caso de agir para adiar eleições ou não aceitar o resultado das urnas.

É fato inédito. Em nenhum período de fechamento democrático vivemos este tipo de fenômeno do aviso prévio. Por isso as reações vieram de praticamente todas as autoridades constituídas no país.

A qualidade das reações é questionável. Vivemos a era da "nota de repúdio", em que colocar qualquer declaração condenatória no Twitter ganha o status de reação institucional sem que seja na prática.

Até aí, são as dores da adaptação à economia da atenção e à apoteose da superficialidade.

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Edson Fachin, se colocou em desvantagem. Fez questão de rebater uma a uma as suspeições infundadas do presidente, ficou na defensiva e criou uma estratégia que não tem como ser vencedora.

Disputar a verdade é uma tarefa hercúlea, muito mais difícil do que criar dúvidas. Se a resposta à criação de dúvidas é uma proposta de estabelecer o que é verdade, sobretudo num tema tão complexo, é impossível vencer a queda de braço.

O mais importante, no entanto, é que houve uma resposta. E, em meio a divagações e disputas da verdade, Edson Fachin qualificou claramente o ato de chamar embaixadores para aquele espetáculo. Poderia ter sido o centro da argumentação. Não foi, paciência.

Entre os demais pré-candidatos, apenas Ciro Gomes foi claro e incisivo ao pregar o impeachment. Simone Tebet focou na confiança no processo eleitoral. Lula primeiro fez questão de se diferenciar de Bolsonaro e, horas depois, dada a perplexidade diante da reação, condenou o ato do adversário.

Rodrigo Pacheco, presidente do Senado, deu uma no cravo e outra na ferradura. Foi protocolar ao primeiro defender a liberdade de expressão, mas condenou o questionamento ao sistema eleitoral. A declaração não teve, no entanto, o peso e gravidade que o momento requer.

É realmente um desafio lidar com esse novo tipo de personalidade que ganhou poder na política nos últimos anos. Até agora, os Republicanos não sabem direito como lidar com as provocações sistemáticas de Donald Trump. E estamos falando de uma democracia já estabelecida.

Grave mesmo é o silêncio mais que eloquente de Augusto Aras e Arthur Lira. Fiquei até preocupada com eles. Imaginei que pudessem ter sido sequestrados.

Vivemos num país violento. Talvez fosse essa a explicação para o silêncio. Em casos assim, as autoridades policiais pedem que a imprensa não noticiem o crime para não atrapalhar as investigações. É a única explicação que me ocorreu para o silêncio.

Meu colega do UOL, Felipe Moura Brasil, cogitou que talvez estivessem desligados das redes, numa partida de baralho. Pode ser também que estivessem numa sauna, sem celulares, incomunicáveis.

A colunista do UOL Carolina Brígido acalmou nossas aflições pelo menos no caso de Augusto Aras. A avaliação dentro da PGR é de que houve uma simples manifestação de opinião, sem nenhuma caracterização de crime.

Jair Bolsonaro fez um movimento institucional e de demonstração de poder. Questionou a legitimidade do processo eleitoral e também disse que tem apoio para fazer isso.

A grande questão é se tem mesmo o apoio que diz ter. Por parte das Forças Armadas ainda temos uma incógnita. Por parte da PGR e da presidência da Câmara temos, até agora, um silêncio eloquente.