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Madeleine Lacsko

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

O amor venceu e bolsonaristas dão uma força a Mercadante no BNDES

Lula e Mercadante após anúncio do ex-ministro como presidente do BNDES - Ricardo Stuckert
Lula e Mercadante após anúncio do ex-ministro como presidente do BNDES Imagem: Ricardo Stuckert

Colunista do UOL

14/12/2022 11h46

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Lula chorou de novo na diplomação e, com toda emoção e todo direito, segue descontando com gosto o cheque em branco que recebeu da população brasileira.

Vi diversos liberais que apoiaram a campanha absolutamente indignados com as premissas econômicas que estão se desenhando. Eles não têm esse direito de indignação.

Lula jamais prometeu que faria diferente do que está fazendo agora e esses liberais poderosos escolheram não esclarecer nada com o então candidato. A expectativa infundada é mãe da decepção.

O grande Nelson Rodrigues já dizia que toda unanimidade é burra. Poderiam ter ouvido. Aquele festival de cartas de diversas categorias profissionais, inclusive economistas, apoiando abertamente um candidato à presidência não podem ser explicadas por propostas reais, já que nenhum dos dois propôs nada além de dizer que o outro é um monstro.

Houve, no entanto, pistas do tipo batom na cueca. Uma é Lula tirando sarro do mercado financeiro, algo que fez os luloafetivos transformarem o mercado numa entidade humana tratada da mesma forma que os bolsomínions aquartelados tratam o STF.

A outra é a participação de Guilherme Boulos no Roda Viva em outubro do ano passado no dia seguinte ao primeiro turno. Ele disse claramente que Lula não estava comprometido com nenhuma agenda econômica liberal, teto de gastos, governança, nada disso. Falou com toda clareza do mundo que Alckmin e Meirelles estavam na campanha mas não havia compromisso com as pautas econômicas deles.

Se tivesse mentido, teria sido desmentido. Apontei isso pelo menos umas cinco vezes na live UOL, que apresento de segunda a sexta com Felipe Moura Brasil: não desmentiu porque é verdade.

Nos populismos e nas polarizações afetivas - que são diferentes de polarizações políticas - é comum que o grupo se meta a tradutor do líder. Ele diz coisas que realmente pensa e são acolhidas pelos mais radicais. Os que apóiam o grupo para imaginam que ele não seja radical vão "traduzir" a expressão para que se torne palatável.

Quando Jair Bolsonaro dizia coisas abjetas como "fuzilar a petralhada", os bolsomínions iam ao delírio. Os liberais engravatados e de sapatênis já levantavam a bandeira do "veja bem". Não era isso que ele queria dizer, era só coisa de internet. E agora vimos em Brasília que o pessoal levou a internet bolsonarista para as ruas.

Lula disse que "o mercado fica nervoso à toa", frase que foi acolhida efusivamente pelos luloafetivos. Os liberais engravatados e de sapatênis que o apóiam correram para levantar a bandeira do "veja bem". Foi apenas uma força de expressão e Lula vai respeitar as regras legais e de governança, diziam.

Às vezes me ocorre que a origem de elite econômica e social de boa parte dos nossos liberais os leva ao delírio de acreditar que são capazes de botar cabresto num presidente da República vindo de origem pobre, como Lula e Bolsonaro. Ao repetir a dose, terão o mesmo resultado, quebrar a cara.

As regras de governança das empresas públicas poderiam atrapalhar não só a nomeação de Mercadante no BNDES, mas as promessas que Lula fez à Torre de Babel que se convencionou chamar de frente ampla. Qual o problema? Muda-se a regra.

Uma bolsonarista que andou a campanha toda ao lado de Michelle e é aliada de primeira hora de Arthur Lira redigiu o substitutivo que diminui de 36 meses para 1 mês a quarentena de dirigente partidário ou coordenador de campanha política indicado para empresas públicas. Alegou interesse público.

O presidente da casa pautou porque o placar era garantido. O PSDB que, como o Novo e o Cidadania, era contrário à medida, pediu a retirada de pauta - seria a melhor forma de desmobilizar. Nem o filho de Bolsonaro achou isso certo.

O PL votou em peso para manter na pauta a amarração de Arthur Lira que abre portas para um tsunami de indicações de políticos em estatais. Nem o fillho do Bolsonaro e Carla Zambelli se meteram a impedir o centrão de conseguir esse avanço.

Na hora da votação final, que já estava garantida por larga margem, o PL foi contra. Não faria a menor diferença.