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Madeleine Lacsko

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Luloafetivos parecem acreditar em baixar os juros no grito e no bullying

13.fev.2023 - Lula durante ato em comemoração aos 43 anos do PT - Reprodução/Youtube
13.fev.2023 - Lula durante ato em comemoração aos 43 anos do PT Imagem: Reprodução/Youtube

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O universo luloafetivo parece ter chegado à conclusão de que o próprio presidente da República vociferar contra o presidente do Banco Central é algo que pode baixar os juros. As paquitas de políticos brasileiros são acreditadoras à prova de qualquer fato ou dado de realidade.

A briga entre as duas autoridades não adianta nada para baixar juros. Sendo pública, pior ainda. A ideia de instabilidade do governo e a falta de clareza do presidente sobre o que pensa da independência do Banco Central causam um tipo de instabilidade que vai, de uma forma ou de outra, contribuir para a alta dos juros.

O presidente Lula obviamente sabe disso. As diversas autoridades e caciques petistas que insistem em passar o dia atacando pessoalmente Roberto Campos Neto também sabem.

As marionetes luloafetivas que fazem sua jihad nas redes sociais não fazem a menor ideia de como funciona a política de juros. Estão viciadas em um sistema mediado por algoritmos que possibilita viver ganhando tudo na base do grito e do bullying.

Quando não gostam de alguém, passam a inventar uma série de histórias sobre a pessoa. Pegam um print e distorcem. Uma foto vira a prova de que aquela pessoa é inviável para o convívio em sociedade, teria uma chaga radioativa. Na maioria das vezes, as alegações são estapafúrdias, como agora no caso dos juros.

Dizer que Roberto Campos Neto é bolsonarista, tem uma offshore ou é neto do Roberto Campos não muda nada na independência do Banco Central, no mandato que ele exerce à frente da instituição nem na taxa de juros. Quando tem dinheiro e poder em jogo, a técnica de silenciar discordantes não funciona.

Em outros casos, por mais estapafúrdias que sejam as alegações dos luloafetivos contra os críticos, pouco importa que os adultos não acreditem. O movimento de ganhar no grito e fazer bullying prescinde da verdade. Basta fazer um escândalo cada vez que alguém cita a pessoa e unir um grupo para perseguir sistematicamente. A figura passa a ser tão tóxica que todos querem distância. Mesmo quem reconhece a injustiça fica bem calado, com medo de ser a próxima vítima.

Lula sabe que tem uma alternativa de fazer algo real para baixar a taxa de juros, acionar sua maioria no Conselho Monetário Nacional para aumentar a meta de inflação de 2023. Roberto Campos Neto parece concordar que funcione. Há economistas que divergem.

De qualquer maneira, essa ação seria um esforço apenas para baixar juros não para criar uma narrativa do tipo vacina, uma das especialidades do movimento luloafetivo.

Não importa de quem seja a culpa de uma crise econômica, a tendência do cidadão é sempre pendurar a responsabilidade na figura do presidente da República. É preciso urgentemente arrumar um bode expiatório, já que Lula não vai entregar o que prometeu e ainda enfrenta o fantasma da nostalgia de seu primeiro governo.

O presidente Lula ainda não se pronunciou sobre o tema para fora de seu cercadinho. Talvez tenham feito há anos alguma lei que obrigue presidente a falar só para o próprio cercadinho e eu não fiquei sabendo. No cercadinho, não tenham dúvidas de que a narrativa cola. Aliás, qualquer narrativa cola e ganhará justificativa.

Fora do cercadinho são outros quinhentos. Lula aposta que as pessoas não entendem muito de juros, então vão ouvir a fala dele e culpar o Banco Central caso ele não entregue a prosperidade que prometeu na campanha. Muito difícil de acontecer, mas é uma tentativa.

Dilma Rousseff foi duramente criticada por sindicatos e pelo empresariado quando seu Banco Central mantinha uma taxa de juros ainda mais alta do que temos agora. Diziam sobre ela pior do que agora dizem sobre Roberto Campos Neto. Foi imolada por anos na imprensa pelas taxas enquanto tentava culpar os grandes bancos. O Banco Central ainda não era independente naquele tempo nem tinha um presidente que fosse um bode expiatório tão perfeito.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que informava a coluna, Lula pode acionar sua maioria no Conselho Monetário Nacional, e não na Comissão de Valores Mobiliários. O texto foi corrigido.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL