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Marina e a arte lulista de jogar a culpa nos outros
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"A culpa é minha, coloco em quem eu quiser", é uma frase do grande pensador Homer Simpson que inspira gerações. Bons praticantes desse esporte tendem a triunfar. O lulismo é um craque da matéria.
O episódio envolvendo Marina Silva é vergonhoso, embora previsível. Diante dele, o governo tenta duas saídas diferentes: dizer que Lula estava magoado com a ministra ou pendurar a culpa no Congresso, que mandaria mais que o presidente da República.
O ocorrido com Sonia Guajajara, ministra dos Povos Indígenas que teve sua pasta esvaziada, mostra por que não devemos levar a sério lacração e militância de universo simbólico. Essa fatia da sociedade, que comemorou de forma efusiva a nomeação, não tem a mesma energia para defender a manutenção dos poderes efetivos da ministra. Ou seja, não era pela causa, era para ficar bem no grupinho da sinalização de virtude.
Marina Silva tem uma história longa com o lulismo, que recapitulei numa coluna na última segunda-feira, antes que se efetivasse o esvaziamento da pasta do Meio Ambiente. Nas redes sociais, a equipe de Lula tenta tratar o caso como corriqueiro da política. Seria, não fosse a atuação da Presidência da República na história.
O atrito entre Ibama e Petrobras existe e pode ser gerenciado de diversas formas. A escolha de Lula foi desautorizar Marina Silva publicamente de forma dupla.
A primeira é a Casa Civil chamar o presidente do Ibama para "explicar" a decisão técnica sobre a exploração de Petróleo na foz do Amazonas. Decisões técnicas são autoexplicativas, a conversa é um movimento puramente político. Há possibilidades reais de reverter decisões técnicas em conversas entre os técnicos do Ibama e da Petrobras, que pode apresentar novos planos de contingência.
Além disso, uma nota vinda de fontes do governo chegou à imprensa dizendo que Lula se sentiu traído por Marina Silva com a decisão do Ibama. Ou seja, a culpa é dela. Pouco importam os fatos. Pendurar a culpa em Marina é a senha para justificar qualquer atitude contra ela. Nenhuma novidade.
Isso foi feito justamente no momento em que o governo estava negociando com o Congresso a questão da estrutura dos ministérios. Reportagem de ontem da Folha de S. Paulo mostra que Lula agiu para blindar a Casa Civil e rifou Marina Silva.
Dizer que a culpa é do Congresso cola para a militância, mas fica difícil explicar como ganha de lavada no arcabouço fiscal e perde nisso no dia seguinte. Além de tudo, o perfil de Twitter do PT no Senado postou o seguinte: "VITÓRIA! ✊ Comissão Mista acaba de aprovar parecer favorável à MP da organização ministerial do governo Lula. Câmara dos Deputados deve votar o texto amanhã". É a votação que tirou poderes de Marina Silva.
Nacionalmente, é uma questão vista de duas formas diferentes. Muitos consideram inacreditável Lula fazer isso com alguém que o apoiou desde o primeiro turno, foi fundamental para a construção da frente ampla e imprescindível para que ele vencesse bolsonaro por uma vírgula. A outra forma de ver é que Marina Silva mereceu isso porque perdoou Lula e o PT sem nem receber um pedido de desculpas.
Ocorre que aqui temos também a questão internacional, onde o Brasil só é realmente gigante em uma matéria: meio ambiente. Essa questão foi uma constante geração de conflitos e afastamentos durante o governo Bolsonaro. Marina Silva é uma das autoridades mais respeitadas do mundo na matéria, foi celebrada internacionalmente como ministra. Ela inclusive foi no lugar de Lula à COP 27.
Esvaziar o escopo de poder de Marina Silva terá consequências reais. Aqui no Brasil dá para ganhar no grito, criando narrativas e culpando terceiros, inclusive a própria ministra. Nas relações internacionais não é assim. Não bastará para Lula dizer que não é Bolsonaro, terá de mostrar avanços reais na pauta ambiental.
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