Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Brasileiro trocou preocupação com a pandemia pelo medo da crise econômica
No dia em que a pandemia completa dois anos, metade dos brasileiros afirma não ter medo nenhum do coronavírus. A pesquisa Ipespe divulgada nesta sexta (11), mostra que 48% dos entrevistados decretaram o fim da pandemia. São 10 pontos percentuais a mais do que na pesquisa de fevereiro.
Essa mudança, no entanto, não se reflete na avaliação sobre o governo de Jair Bolsonaro (PL). Para 52% dos brasileiros, o governo federal é "ruim/péssimo" e 63% desaprovam a gestão Bolsonaro. Um patamar alto de rejeição que se repete há pelo menos nove meses.
A troca de percepção poderia se espelhar na redução do pessimismo sobre a economia, uma vez que o retorno a uma vida quase sem pandemia favoreceria a retomada de empregos e de estabilidade. Não é o que ocorre e isso está relacionado à falta de confiança do brasileiro acerca da competência do governo para tratar a economia, a inflação e o desemprego: para 61%, a economia ainda está no "rumo errado", 33% esperam aumentar muito o endividamento e 69% dizem que a inflação e o preço dos produtos "aumentaram muito".
Isso sem contar o tarifaço dos combustíveis anunciado nesta quinta (10) pela Petrobras, o que a pesquisa Ipespe ainda não avaliou. O mega-aumento — 18,8% na gasolina, 16,1% no gás de cozinha, 24,9% no diesel — deve afetar os custos dos transportes e incidir fortemente sobre toda a cadeia econômica, gerando mais desemprego e mais inflação. Qual é o plano do ministro Paulo Guedes?
O mega-aumento pega em cheio o centro nervoso do bolsonarismo. Caminhoneiros ameaçam paralisação com o bloqueio de rodovias importantes para o escoamento da produção agrícola.
A nova crise será mais um teste para o governo de Jair Bolsonaro, que também tem de lidar com o imponderável causado pelo conflito na Ucrânia. As medidas anunciadas recentemente para alegrar seu público mais fiel, como a redução de IPI para automóveis e imposto zero para importação de motos aquáticas, podem não fazer efeito. A situação atual é muito mais complexa e requer respostas mais sofisticadas que eleitoreiras.
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