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Mauricio Stycer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Citação a Alexandre Garcia dá peso ao histórico capítulo das fake news

Alexandre Garcia na CNN Brasil  - Reprodução / Internet
Alexandre Garcia na CNN Brasil Imagem: Reprodução / Internet

Colunista do UOL

21/10/2021 15h25

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No relatório final da CPI da Covid, o capítulo sobre notícias falsas ocupa 224 páginas (19% do total) e o termo "fake news" é reproduzido 94 vezes. É um capítulo importante, histórico mesmo, ainda que incompleto e sem a força que muitos esperavam.

A esta altura, ninguém mais desconhece que o combate à pandemia do coronavírus não foi capaz de unir o país, como seria de se esperar de uma tragédia desta magnitude. Ao contrário, aprofundou a divisão. E deixou explícito, caso alguém ainda não tivesse notado, como a mentira tem sido usada como arma na guerra da informação que se trava em diferentes plataformas.

Após quase seis meses de investigação, a CPI apontou a existência de uma "organização estruturada e dividida em núcleos para atuar na disseminação de desinformação, aferindo especialmente a propagação das ideias defendidas pelo presidente da República".

Para ler um bom resumo do capítulo sobre as fake news clique em CPI: relatório acusa Bolsonaro e filhos de comandar fake news sobre covid.

Um dos tópicos do capítulo é dedicado aos "influenciadores digitais". São mencionados 23 nomes, classificados como agentes da disseminação de fake news. A CPI pede o indiciamento de seis deles, acusados de terem incentivado o descumprimento de medidas sanitárias, "praticando incitação ao crime ao longo da pandemia".

Sobre a atuação dos demais, o relatório informa que "constatou-se a ausência de uma tipificação penal para punir de forma satisfatória as pessoas que divulgam informações falsas". Ainda assim, o texto detalha sete acusações a este grupo:

1. Propagação de notícias infundadas sobre a origem do vírus, perpetrando e encorajando ataques à China e seu povo, por meio de conteúdo nitidamente xenófobo;

2. Críticas ao isolamento social, contendo argumentos falhos sobre a eficácia dessa ação para o enfrentamento da pandemia.

3. Busca de isenção de responsabilidade pelo governo Bolsonaro, com base no falso discurso de que o Supremo Tribunal Federal havia proibido o governo federal de atuar no combate à pandemia.

4. Campanhas coordenadas para incentivar o chamado "tratamento precoce", baseadas em estudos falhos sobre a eficácia dos medicamentos usados para tratar a covid-19.

5. Campanhas que passavam desinformações sobre o número de mortes causadas pela covid-19, com distorções sobre o número e a causa dos óbitos.

6. Difusão de conteúdos que buscavam contestar a eficácia do uso de máscaras no enfrentamento da pandemia. Alguns até indicavam suposta nocividade em seu uso. Outros seguiram a linha da politização do uso do equipamento, que passou a ser apontado como "medida de controle social".

7. Propaganda antivacina, que disseminou informações falsas sobre os riscos e a eficácia desses imunizantes.

Em defesa dos "influenciadores digitais" pode ser argumentado que eles propagam "fake news" por ignorarem as regras básicas do jornalismo. Mas esse argumento não vale para Alexandre Garcia. Entre os 23 nomes citados, o seu é o que mais chama a atenção e dá peso ao capítulo.

Garcia se distingue dos demais por ter uma carreira reconhecida como jornalista. Trabalhou no Jornal do Brasil, TV Manchete, Globo (por mais de 30 anos) e CNN Brasil, entre outros, além de ter sido secretário de imprensa do presidente João Figueiredo durante a ditadura militar.

A ele, o relatório dedica as seguintes palavras: "O jornalista foi um dos mais empenhados em mudar a imagem do governo federal durante o combate a pandemia. Fez vídeos, textos e publicações em suas redes sociais divulgando o tratamento precoce, questionando número de mortes na pandemia. Fez críticas ao uso de máscaras e ao isolamento social".

Durante a maior parte da pandemia, entre 2020 e 2021, Garcia atuou como comentarista da CNN Brasil e em seu canal pessoal no You Tube. Em maio, já durante a CPI, a plataforma apagou um de seus vídeos e ele próprio apagou 66 vídeos e colocou mais de 400 como "privados". No final de setembro, o canal de notícias rescindiu o contrato com o jornalista.

Em sua coluna no jornal "Gazeta do Povo", publicada na quarta-feira (20), Garcia não faz menção ao fato de ter sido citado, mas diz lamentar que "a realidade que a gente esperava que fosse investigada não foi". Escreve ele::

"Hoje é dia de a CPI ler o relatório, que agora vai para o Ministério Público separar o que é narrativa, o que é ficção e o que é realidade. Infelizmente, a realidade que a gente esperava que fosse investigada não foi.

O nosso dinheiro, que foram bilhões para governadores e prefeitos, a CPI não investigou como foi usado, só foi atrás de tentar culpar Bolsonaro pela culpa que é de um sujeito chamado "coronavírus". E se há responsabilidade é de que laboratório saiu esse vírus.

A comissão teve tristes momentos, como os depoimentos das médicas Mayra Pinheiro e Nise Yamaguchi. Teve momentos risíveis quando trouxeram aquela médica que depois descobriram ser cantora. Momentos duros para a CPI quando o ex-secretário-executivo do Ministério da Saúde, Elcio Franco, e o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) depuseram e derrotaram todas as narrativas do tal G7 e o melhor momento: quando Luciano Hang dominou a CPI — ele foi um maestro, relator, assistente, foi tudo."