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Mauricio Stycer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

"Gabriel Monteiro, herói fake" parece reportagem de TV e não documentário

18.ago.2022 - Gabriel Monteiro durante votação de cassação de seu mandato - Reprodução
18.ago.2022 - Gabriel Monteiro durante votação de cassação de seu mandato Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

06/12/2022 07h01Atualizada em 06/12/2022 22h19

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O Globoplay lança nesta terça-feira (6) mais uma série documental feita em parceria com o jornalismo da Globo. "Gabriel Monteiro - Herói Fake" descreve a fulminante trajetória do ex-policial e jovem youtuber, eleito vereador do Rio e hoje preso sob acusação de estupro e assédio sexual contra quatro mulheres.

Na pressa de contar essa história, cujo desfecho ocorreu há um mês, a série mais parece uma reportagem do "Jornal Nacional" do que um documentário.

Com direção de Eliane Scardovelli e Rafael Norton, e reportagem de Mahomed Saigg, a série em quatro episódios reconstitui a saga de Gabriel Monteiro (PL), que se tornou famoso fazendo vídeos provocadores, frequentemente editados de forma manipulada, confrontando adversários.

Um típico personagem do ecossistema bolsonarista, Monteiro foi eleito vereador pelo PSD em 2020, com mais de 60 mil votos. E seguiu fazendo vídeos com supostas denúncias de mau atendimento na rede hospitalar do Rio. Com cerca de 5 milhões de seguidores no YouTube, seus vídeos rendiam, no auge, cerca de R$ 300 mil mensais - até a plataforma decidir desmonetizá-lo.

Além dos processos por abuso de autoridade e infâmia, Monteiro passou a ser investigado também por maus tratos aos próprios funcionários e abuso sexual, incluindo um caso com uma menor de 16 anos. Em 19 de agosto deste ano, o youtuber foi cassado com o voto de 48 vereadores, e apenas dois a favor. Em 7 de novembro, a Justiça decretou a sua prisão preventiva.

A série estreia, portanto, um mês depois da prisão do ex-vereador. Além de resumir o noticiário sobre Monteiro, traz depoimentos inéditos de ex-funcionários e mulheres que o acusam de violência sexual. Nada além disso.

No fundo, "Gabriel Monteiro - Herói Fake" é uma grande reportagem, caprichada, mas está longe de ser o que se definiria como um documentário. A série não aprofunda o assunto e deixa inúmeras lacunas. Muito brevemente, tenta explicar em que contexto Monteiro surgiu, mas faz isso de forma superficial, com uma brevíssima menção a Arthur do Val, o "Mamãe Falei".

Também não explora as conexões políticas de Monteiro, nem as razões que o levaram a ficar, posteriormente, isolado na Câmera de Vereadores do Rio. Apesar de mostrar repetidamente imagens de apoiadores do então vereador, não tenta entender o que eles pensam a respeito do caso nem da sua atuação como youtuber e político.

A série apenas registra que como o ex-vereador foi impedido de disputar as eleições de 2022, seu pai, Roberto Monteiro, e sua irmã, Gisele Monteiro, se elegeram, respectivamente, como deputado federal e deputada estadual em outubro. O que isso significa?

O aspecto mais positivo da série é enfatizar a importância das denúncias de abuso sexual. Delicado, o tema ganha destaque por meio dos depoimentos das vítimas e das agentes policiais.

Correndo para levar a série à plataforma de streaming, o Globoplay desperdiça a chance de fazer uma investigação mais aprofundada sobre o fenômeno que Monteiro representa.