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Mauricio Stycer

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

CNN Brasil dá cavalo de pau para corrigir série de erros desde a criação

Monalisa Perrone e Sidney Rezende estão entre os jornalistas demitidos hoje da CNN Brasil - Reprodução/Instagram
Monalisa Perrone e Sidney Rezende estão entre os jornalistas demitidos hoje da CNN Brasil Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

01/12/2022 15h20

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Para um canal que está no ar há apenas dois anos e nove meses e já passou por três trocas de comando, os cortes que estão sendo feitos nesta quinta-feira (1º) confirmam a impressão de que a CNN Brasil é um projeto que ainda não vingou.

Sem a obrigação de dar satisfações públicas sobre as suas decisões, a CNN ainda não divulgou nenhum comunicado sobre a dimensão do cavalo de pau que deu hoje. Fala-se em mais de uma centena de funcionários demitidos. Vários âncoras conhecidos já confirmaram suas saídas, entre os quais Monalisa Perrone, Marcela Rahal e Sidney Rezende.

Numa nota interna aos funcionários, foi comunicado o fechamento da redação do Rio, a terceira mais importante do canal, depois de São Paulo e Brasília. A empresa diz que o corte ocorrerá "sem prejuízo à cobertura", o que parece mais desejo do que realidade.

A nota diz ainda que a "reestruturação" tem dois objetivos principais: fortalecer o noticiário quente e reduzir custos para tirar as contas do vermelho e "atingir o equilíbrio financeiro (breakeven) em 2023".

Nesta curta história de vida, a CNN ainda não encontrou uma linha editorial clara nem uma situação econômica confortável. A pandemia de coronavírus, que acompanhou o canal desde o seu nascimento, atrapalhou, mas não explica tudo. Vários foram os erros cometidos pela CNN desde a sua inauguração, em março de 2020. Alguns deles:

1. Grandioso, o projeto inicial de Douglas Tavolaro foi mal dimensionado. Embora ele afirmasse que a emissora estava operando no azul, as indicações são de que os custos sempre superaram as receitas.

2. O executivo, que vinha da Record, montou uma equipe de executivos com profissionais da antiga empresa, impondo um controle rígido do noticiário, o que sempre limitou a atuação de âncoras e repórteres. Por outro lado, apostou em debates com vozes extremadas, com a intenção explícita de provocar polêmicas e chamar a atenção, fazendo com que o canal se tornasse, mesmo à revelia, divulgador de fake news.

3. Tavolaro contratou âncoras e apresentadores de canais conhecidos com altos salários, que tiveram dificuldades, em sua maioria, de se adaptar ao novo canal. Vieram Reinaldo Gottino, Evaristo Costa, Monalisa Perrone, William Waack, Marcio Gomes, Gloria Vanique, Mari Palma, Phelipe Siani, Christiane Dias, Alexandre Garcia, Tais Lopes e Carla Vilhena. A maioria não foi feliz na CNN.

4. Discreto na primeira fase, Rubens Menin, sócio principal da CNN Brasil, assumiu um protagonismo maior ao comprar as ações de Tavolaro e afastá-lo do canal apenas um ano depois da inauguração. O empresário nomeou para dirigir a CNN a executiva Renata Afonso, até então um nome pouco conhecido no mercado nacional - comandou por 14 anos a TV TEM, afiliada da Globo em Sorocaba, em São Paulo. Foi nesta nova fase, por exemplo, que o canal exibiu um programa sobre uma vinícola do próprio Menin em Portugal.

5. Renata manteve os executivos trazidos por Tavolaro, afirmou que não tinha a intenção de enxugar a empresa ("Otimizar sim, mas cortar custos não está no radar"), mas anunciou uma guinada: investimentos em programação "soft", ou seja, programas não ligados ao noticiário do dia, mas de caráter mais leve, como cultura, culinária e "life style". Na visão da executiva, esses programas mais "leves" atrairiam novos anunciantes e elevariam a receita do canal. Tudo indica que foi mais uma ideia que não funcionou.

6. No final de outubro de 2022, após 18 meses no comando, Renata Afonso foi informada que o canal teria um novo presidente executivo. Menin se afastou e contratou para o seu lugar o empresário João Camargo, proprietário das rádios Alpha FM, 89 Rádio Rock, Nativa e Disney e sócio da BandNewsFM. Menin decidiu fazer a mudança após manifestar insatisfação com os resultados econômicos e de audiência do canal.

7. Camargo preside também o grupo Esfera Brasil, que tem como associados alguns dos maiores empresários brasileiros e tem promovido debates com figuras públicas sobre a situação política e econômica do país. Sua função é trazer novos anunciantes e mexer na programação. A chegada de Camargo foi um sinal claro de mudanças drásticas no canal. Em 21 de novembro, um mês depois da nomeação do executivo, Renata Afonso deixou a CNN.

8. A proximidade de Menin com o governo Bolsonaro lançou dúvidas, em diversos momentos, sobre a postura da CNN Brasil nestes últimos três anos. Na comparação com a GloboNews, o principal canal de notícias do país, a CNN frequentemente se colocou numa posição mais simpática ao governo.

9. A chegada de Camargo coincidiu com a eleição de Lula e a derrota de Bolsonaro. O canal tem adotado um tom editorializado, crítico à proposta do presidente eleito, de propor uma PEC que pretende alterar as regras fiscais e viabilizar a manutenção de programas sociais e o cumprimento de promessas feitas na campanha eleitoral. No canal, a PEC da Transição virou "PEC do Estouro", uma sinalização explícita ao mercado de que a CNN não apoia a proposta do futuro governo.