Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Brasil tenta arrancar da Venezuela imagem de maior República bananeira
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A crise institucional gerada pelo deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) está dando um impulso negativo na imagem do Brasil para arrancar da Venezuela o troféu de maior República bananeira do planeta, posição que já era ameaçada pelos generais que deram um golpe em Myanmar, depondo o governo eleito.
Uma República bananeira é aquela que, por meio dos seus líderes e representantes votados pelo povo, dá uma banana para as instituições democráticas.
O Brasil experimenta uma perda de respeito internacional, aliás, reconhecido não apenas pelos estudos que medem essa percepção, mas igualmente pelo próprio governo, que anuncia um esforço para recuperar a imagem do país no exterior, maculado por uma ausência de política ambiental que assumisse a responsabilidade de cuidar do patrimônio nacional do meio ambiente.
Imagem é a síntese do que é mostrado e percebido pelas pessoas. Além das palavras, inclui os gestos e os valores que aparecem nas ações. São as crenças que motivam as ações, definindo os objetivos. Os líderes são os porta-vozes do país, pela fala ou pela omissão do discurso e das providências.
A imagem de um país é fruto do imaginário das pessoas, que têm muita ou pouca informação a respeito dele, seja pelas expressões culturais, como o cinema, a música ou a literatura - ou seja, o soft power, o poder suave, que descreve um povo, impregnando-o de qualidades. Mas a imagem é o resultado muito concreto do comportamento das lideranças, que, ocupando lugares de autoridade, falam em nome da sua gente.
O Brasil vive um momento especial, em que o presidente da República deixa de ser porta-voz da nação e fala com parte da população que identifica nos seus propósitos um projeto legítimo e desejável - não fica claro, porém, para a maioria, que terra prometida é essa. Apenas se sabe que estarão aí alguns muito bem armados e que não haverá lugar para todos - na prática da heresia da separação. Não cabem aí todos os brasileiros, os diferentes de uma classificação pré-definida, moldada por uma visão estereotipada e tacanha do que é o ser humano. São eles contra nós - nós quem?
A retórica simplória, agressiva e construída na lógica da barbárie, que consolida uma visão de mundo difundida nas mídias sociais pelo deputado Daniel Silveira (PSL-RJ) e aplaudida por alguns, caminha de mãos dadas com os bárbaros que invadiram o Capitólio, em Washington, no dia 6 de janeiro, invocando incompetência das instituições nas eleições americanas, que expulsaram Donald Trump da Casa Branca. Há um vínculo de imagem, uma identificação com aquelas crenças e valores.
No entanto, uma nação, disseram em coro os democratas americanos, não é representada por aqueles bárbaros, terroristas que vandalizam instituições. Um país, repetiram em uníssono, não pode ser confundido com os porta-vozes do caos, da destruição, do desrespeito e da iniquidade. A Federação é maior, é mais que a soma das vozes desconexas que tentam definir uma realidade baseada na destruição.
Ao longo de décadas, o Brasil tentou se esquivar da imagem de mais uma República de bananas, ao sul do Equador, um entre aqueles nos quais, antes que amadurecesse um cacho da fruta, os generais já faziam rodízio no comando do governo, definindo novas regras para se manter no poder, sucessivamente.
A imagem de um país que não é sério, na frase atribuída e não confirmada pelo general Charles de Gaulle, hoje é quase pueril, diante de atributos muito mais graves que começam a descrever como o país é percebido, contaminado pela atuação de lideranças que não cumprem com o seu dever.
A irresponsabilidade, a leniência, a apatia emocional diante da dor de milhares de famílias e de milhões de pessoas que sucumbem empurradas pela inércia e incompetência de autoridades, contratadas para cuidar da saúde dos brasileiros e das brasileiras, também contribuem de forma importante para que o retrato do Brasil vá sendo pintando mundo afora como um país cuja credibilidade escorre nos próprios esgotos.
Imagem não se constrói com saliva. Imagem se estabelece com gestos - não aqueles dos soldadinhos bem treinados da milícia de Hitler, preparados para realizar o seu delírio paranoico e narcisista - mas com gestos de grandeza e de coragem, para barrar os movimentos daqueles que querem jogar o país e seu povo na vala comum dos egóicos tresloucados, cuja leitura de mundo é o de ilhas cercadas por muros e guardadas por milícias.
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