Topo

Olga Curado

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Bolsonaro não é maluco beleza; segue manual passo-a-passo para o caos

Bolsonaro faz mira com arma de fogo em Israel -  Reprodução/Instagram
Bolsonaro faz mira com arma de fogo em Israel Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

22/02/2021 13h41

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O ex-deputado por 27 anos, capitão reformado, expulso do Exército, e candidato à reeleição à presidência da República, Jair M. Bolsonaro, segue um manual que descreve o passo-a-passo para estabelecer o caos no país. Veio para confundir e não para esclarecer. Uma agenda que tem financiamento internacional para desestabilizar a democracia, como informou o ministro Dias Toffoli, no Canal Livre, da TV Bandeirantes.

Um maluco beleza não põe o dedo na energia elétrica, porque sabe que dá choque. Sabe que gasolina é inflamável e que gás de cozinha provoca explosão.

Maluco beleza não recomenda remédio milagroso que não cura, mas mata, e ainda não se incomoda com isso, "afinal, todo mundo vai morrer". Maluco beleza chora com a estatística dos mortos que são enterrados sem velório.

Maluco beleza não nomeia para cadeira de ministro da Saúde quem não sabe e não quer cuidar das pessoas. Quem veio para confundir escolhe um rotundo general que usa a sua massa corpórea para esconder o chefe de responsabilidade.

Seremos em breve mais de 250 mil mortos pela "gripezinha". Os sobreviventes, entre os mais de 10 milhões de infectados no Brasil, terão que lidar com os efeitos da contaminação pelo coronavírus, cujo alcance mórbido ainda não está plenamente mapeado.

Maluco beleza não nomeia para ministério de Direitos Humanos uma histriônica Damares, que baixa portarias para intimidar mulheres vítimas de violência sexual e que agora quer rever o Programa Nacional de Direitos Humanos, para ajustá-lo à visão do chefe, que entende como direito humano armar a população. Armas também matam, igual a cloroquina usada fora da bula.

Qual é o objetivo do capitão reformado quando escolhe para cargos que exigem conhecimento e competência pessoas que não têm afeição para preservar o que deveriam cuidar?

Em 23 de novembro de 2016, o ex-presidente Donald Trump nomeou Betsy DeVos para a Secretaria de Educação. Contrária à educação pública, assim que assumiu propôs o corte de bilhões de dólares para o seu departamento, tendo sugerido o desmantelamento das escolas públicas e defendido que a Igreja deveria ser o centro educativo da comunidade.

Outro nomeado por Trump, este para chefia da Agência de Proteção Ambiental, foi Scott Pruitt, alguém que questionava a importância da própria agência e defendia a parceria do controle do meio ambiente com as empresas privadas.

Rex Tillerson, ex-executico de Exxon Mobil foi nomeado como secretário de Estado, responsável pela política externa dos Estados Unidos, e tinha como meta reduzir o tamanho da diplomacia americana.

As nomeações atendiam um objetivo: ter inimigos das próprias instituições na sua liderança. Eram kamikazes, na classificação de Benjamin R. Teitelbaum, em "Guerra pela Eternidade" (editora da Unicamp), cada qual se esforçando para minar o feudo que presidia visando contribuir para a desconstrução mais ampla do Estado. Tudo isso financiado por milionários de extrema direita que apostam no caos e na destruição da democracia.

Não são coisa de maluco beleza nem coincidências o que experimentamos sob a liderança do ex-deputado, que passou 27 anos na Câmara Federal.

A ministra Rosa Weber, do STF, encaminhou na última semana queixa-crime à PGR, contra o capitão reformado que prescreve cloroquina, por conta desse receituário.

O Supremo está prestes a saber se esse mesmo capitão expulso do Exército transpassou os limites da sua autoridade constitucional para colocar a Polícia Federal a seu serviço particular. E ainda tem o filho senador, que precisa se explicar à Justiça, na investigação por crime de peculato, delicadamente chamado de "rachadinha", dinheiro de troco.

Não tem maluquice. A agenda antidemocrática tem financiamento internacional. É preciso seguir o dinheiro.