Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
A estridência de Bolsonaro revela ao país a sua natureza de escorpião
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A estridência do capitão tem o endereço certo e segue o manual dos extremistas, que confiam na estultice de uma horda ignorante e em instituições sonolentas. Tem o condão de criar pauta para distrair da essência do que é o governo dele: inepto, incompetente, omisso, desumanizado e, acima de tudo, protetor da sua família, dos filhotes que não têm vergonha de usar o dinheiro público em "rachadinhas" imorais e ilegais.
Conta com esforço e desvelo de um procurador-geral da República para se blindar dos gritos da sociedade, que não aceita a tentativa insistente de criar um clima que invente uma realidade paralela, aquela que povoa os sonhos do capitão reformado, expulso do Exército, de um ditador medíocre.
A sociedade se manifesta pelas vozes de instituições, de organizações, pela representatividade de pessoas que, por si, por sua história e pela biografia que não escondem, não aceitam o golpismo retórico, baseado na cartilha do golpismo, lembrado pelo presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, na fala histórica do início do semestre Judiciário, ao recolocar o compromisso com a democracia acima dos delírios de um sujeito que não reconhece os seus próprios limites (seria esperar demais) e desconhece o Brasil real. Mas que vive a permanente tentação de comer a democracia por dentro, com boiadas invisíveis traçando os regramentos das instituições, com os seus capatazes pusilânimes.
As falas raivosamente treinadas do capitão querem incutir um sentimento de injustiça e de real preocupação com a "transparência" das eleições, para justificar o discurso da volta ao tempo dos coronéis, que tinham o mando e o desmando dos votos, mantendo a cultura da Casa Grande & Senzala, em que a senzala era a população brasileira, alijada das decisões do país, mas seguindo como o sustento de mandatos ilegítimos e na continuidade de privilégios de poucos.
Ora bolas! E ter que ouvir até deputados - esses eleitos pelo voto dado secretamente, numa expressão do desejo do eleitor, na urna eletrônica - falando dos riscos do sistema, ou da sua vulnerabilidade. Ora bolas! Essa conversa fiada que também encanta alguns ouvidos e que parece encantar um Ciro Nogueira, embevecido em estar no meio das salas de rapapés, mas muito acostumado a entrar e sair de governos, sem corar levemente.
Não há aderência ideológica, patriótica; há um compromisso determinado em ficar pendurando e pendurando no poderoso de plantão. Ciro quer ser um amortecedor, mas, já vem rodado. A estrada que o capitão oferece é cheia de buracos e a velocidade da língua despreparada para a conversa civilizada não vai amenizar os solavancos. Resta saber, e é essa a pergunta essencial: a quem serve Ciro? Ao "timoneiro", capitão, ao país, à sequência de mandatos que antevê no seu futuro político, para seu grupo político? A quem serve?
A mesma pergunta para um xôxo Pacheco, que mal levanta os olhos do papel quando lê o texto, ao responder a tentativa de golpismo - retórico, mas estridente - do capitão, falando da cadeira de presidente do Senado Federal, como se estivesse num grêmio estudantil, uma fala quase adolescente, sem entender o tamanho da cadeira em que se senta. Sem entender ainda o que se espera de um presidente do Congresso Nacional.
Lira, como se sabe, não faz segredos em relação aos seus desejos mais íntimos. Quer seguir como o gestor de dinheiros de orçamentos obscuros, distribuindo como óbolos aos seus, que reclamam mais e mais. E daí auferindo o prestígio para seguir como o que garante, capo de uma Câmara dos Deputados que pode ser dominada pelo fisiologismo.
De novo. Ora bolas! De volta ao orelhão com fichas, de volta ao telegrama impresso, de volta ao cabresto no povo. De volta à mordaça à imprensa, de volta a um tempo em que a corte não permitia a existência da ciência, que exigia a Galileu que engolisse a verdade sobre o movimento da Terra. De volta ao terraplanismo. Tudo isso como pretexto, como distração para, de fato, levantarem-se as barreiras à democracia. Para impedir a expressão de um país que se espanta com o destempero dissimulado de uma língua sem limites. De alguém que, alçado à posição de governante maior do Brasil, tenta inibir, pela violência insistente de mentiras, anestesiar uma parte do povo, para que marche contra aquilo que garantiu o seu próprio direito de se expressar.
O escorpião não resiste em matar o sapo que o carrega para atravessar o rio.
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