Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Povo na rua contra fome e fascismo não derrota Bolsonaro; falta Câmara
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Partidos e movimentos sociais se juntaram para protestar em todo o país contra o governo do capitão.
A Câmara dos Deputados, liderada pelo sócio do capitão, Arthur Lira, está na moita, longe das ruas.
A fome e o fascismo são os legados essenciais do governo federal. E foi com esse entendimento que se uniram vinte partidos, a despeito das divergências entre eles, para reconhecer que, além do sangue de quase 600 mil mortos, há uma emergência no país, que clama pela vida.
Não são poucas as lágrimas derramadas na pandemia e muitas outras ainda se sucederão para que cada sequelado ou sequelada pela doença retome, com qualidade, a vida que deixou comprometida pelas decisões e omissões criminosas de lideranças que tinham como finalidade apenas sustentar seu projeto de poder.
Com perplexidade, a ministra Rosa Weber leu o argumento simplório e manipulador de uma funcionária pública com o mandato de defesa do país, na PGR (Procuradoria Geral da República), colocando-se a serviço de uma verborragia negacionista. Não aceitou, a dona Lindôra, que exista eficácia nas máscaras faciais, para conter a expansão de contágio pelo vírus da Covid-19. É dessa matéria intelectual que é feita a administração do capitão reformado.
Como se fosse pouco lidar com mediocridade argumentativa de autoridade em posição de luminares do Direito, a perplexidade da população também ocupa as ruas. Manifestantes inflam balões de botijões de gás, alertando para a impossibilidade de cozinhar o alimento que igualmente lhe é subtraído pela inflação. Gasolina a R$ 7,00, botijão de gás beirando, em muitas cidades, a R$ 125,00, num escândalo que apenas precede a conta de luz e os apagões a caminho.
Mas teremos mais com o que ficar perplexos e perplexas.
Ainda vamos nos defrontar com desculpas mal elaboradas e tentativas de gerar controvérsia com governadores e prefeitos, quando chegar a conta de luz em cada moradia, aviltando o precário orçamento doméstico; quando o apagão colocar nas trevas as cidades e parar as indústrias, quando a água, que já seca em muitos reservatórios, desabastecer as caixas d'água das periferias das cidades.
Virá um Paulo Guedes patético, discursando pela frente, para explicar que o Brasil está retomando a economia em "V", como se, do fundo do povo que a sua administração dissolutamente conduziu, o país estivesse emergindo para uma realidade sem pobreza, fome, desemprego, inflação.
Ainda vamos assistir, perplexos, a mais e mais explicações sem fundamentos, para demonstrar que há uma vitória do governo do capitão contra as mazelas que as ruas denunciam. O V não é da ascensão, de respostas e soluções para os problemas e desafios do país. O V é da vertigem, da vergonha com que nos apresentamos ao mundo. O V é da vertiginosa vergonha nacional de eleger um capitão disfuncional.
Não, Deus não é a fonte de unção de poder para um governo que tem a desfaçatez de tentar se apropriar do cristianismo, como tentou sequestrar os símbolos nacionais - a bandeira e as cores.
A bandeira brasileira foi retomada parcialmente ontem pelas ruas. Ainda o país precisa sê-lo.
Agora, com a chegada do povo às praças, avenidas, ruas e becos, clamando pelo futuro e reconhecendo que o presente é uma ameaça à própria sobrevivência de cada um, de cada uma, de todos nós, como nação e como indivíduos e identidades, inicia-se a proclamação de um basta, porque se foi longe demais.
Não é pouco, ter-se a consciência de que o povo está nas ruas, levantando bandeiras e pressionando por justiça social, por uma economia que reduza os fossos entre o que morrem desassistidos e aqueles que ficam em quarentena, gastando dólares do povo, em Nova York, caso do tal Queiroga, personagem secundário e medíocre do negacionismo. É apenas um começo.
Mesmo as imagens das televisões e das redes sociais, mostrando a presença de milhares de pessoas em todo o Brasil - num protesto muitas vezes alegre, irônico e determinado a fazer valer a sua mensagem de que a fome não é garantia de futuro, de que fascismo não é garantia de país e de que as mortes por Covid-19 decorrem do desmando, incúria e crime - não são essas manifestações ainda a evidência do despertar, a garantia da mudança.
Partidos políticos e movimentos sociais ensaiaram do neste sábado, 2 de outubro, o diálogo entre os diferentes no espectro da ideologia, nas suas idiossincrasias e críticas, que impediram antes soar com vigor o grito comum para derrotar a fome, a miséria, o fascismo. O clamor pelo respeito às vítimas de todos os tipos. Mas ainda não basta. Não são os partidos políticos, os movimentos sociais que farão com que o capitão encare a justiça dos seus atos e omissões.
Ainda é preciso que aqueles e aquelas que representam o povo e os Estados pelo voto, no Congresso Nacional, se cubram de brios e restabeleçam a ponte com a sociedade que os levou a ocupar cargos que devem honrar.
São os senhores e senhoras, deputados, deputadas, senadores e senadoras, que devem agir, além da escuta do grito das ruas. Também têm eles e elas a sua cota de responsabilidade pelo país, muito além de orçamentos secretos, emendas de relator e benesses de autoridades provisórias que são. Afinal, permanente é o povo.
Se a CPI da Pandemia, no Senado, mostra que há um caminho de responsabilização para crimes de governos, que a Casa do Povo, a Câmara dos Deputados, não se aquiete, apequenada para nos deixar a todos e a todas nós mais e mais perplexos e perplexas. Sair da moita é uma obrigação.
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