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Olga Curado

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lula vai para o terceiro mandato; o segundo de Bolsonaro vira miragem

Bolsonaro isolado - Reprodução
Bolsonaro isolado Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

16/12/2021 18h48Atualizada em 16/12/2021 18h52

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A desidratação do ex-capitão, confirmada em mais uma pesquisa de opinião (Datafolha), revela que o soro do Auxílio Brasil não será suficiente para tirar a candidatura dele da UTI. Se quiser se valer do negacionismo que imprime no manejo da pandemia - reforçado novamente com a tentativa de desacreditar a vacina - poderia tentar agora a magia da hidroxicloroquina. Sem comprovação científica.

E ainda isso: tirando casquinha do seu manjar eleitoral, comendo pelas bordas do bolsonarismo, o juiz de ocasião, o Moro, vai catando os descrentes-raiz do ex-capitão para tentar um lugar no palanque.

A vitória do ex-presidente Lula, em primeiro turno, na eleição do ano que vem, vai ficando mais evidente. O legado do ex-capitão e de seus próximos, que não compreendem o Brasil, que descartam os brasileiros e brasileiras, é o absurdo do governo. Pode-se olhar para qualquer lado. O que muda é o grau de inépcia.

Os números trazidos pelo Datafolha não surpreendem, diante do que foi dito pelo Ipec, no dia anterior. São os pobres, a grande maioria da população, que se lembram do que é possível para um governante fazer. Por exemplo, lembrando que é a superação da miséria da gente o principal desafio a ser encarado. A imoralidade da desigualdade social. O inimigo não é a ciência, o adversário não é a vacina, o fantasma não é comunismo, o argumento não é a corrupção. O grito vem da barriga, da mesa vazia de milhões de brasileiros e de brasileiras.

O ex-capitão tem, segundo a pesquisa, ainda alguma simpatia de homens, de mais ricos, de mais escolarizados. É curioso observar essas pessoas que mostram não compreender a realidade do povo. Ostentam o discurso conservador nos costumes, reacionário na exclusão das diferenças, indiferentes ao povo. Não são muitos. Mas existem.

Devem ter alguma razão psicanalítica. Ninguém pode subestimar traumas mal resolvidos. Defendem aqueles o próprio pirão, alheios a aquilo que a pandemia nos ensinou: apenas se todos estiverem a salvo - vacinados - estaremos todos a salvo.

A elite socioeconômica, aquela que tem dólar na poupança, a mais aguerrida para ocupar a tábua de salvação, como se lá só merecessem estar os ricos. No Titanic não havia coletes salva vidas para os viajantes que pagaram menos. Mas todos afundaram. Enquanto houver um miserável, somos todos miseráveis.

Não são poucos os ensinamentos do nosso tempo. Mas se as lições estão à disposição, nem todos estão dispostos a aprender.

O ex-capitão ensaia o texto golpista.

Ele terá que lidar antes com um pequeno dissabor. Enquanto aceita com normalidade ataques à imprensa, o seu ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), André Mendonça, em sua primeira fala depois de empossado, quis desfazer a impressão causada pela declaração dada logo após a sua aprovação pelo Senado. Comemorou os votos dizendo que era "um passo para um homem e um salto para os evangélicos".

Aproveitou para reparar assim que vestiu a toga. Declarou a sua submissão à Constituição e homenageou a imprensa. Deve ter provocado coceiras no seu ex-chefe. Mais uma chateação em um dia de muita notícia ruim para o ex-capitão.

E ainda tem mais. Precisa lidar com um fato cruel. A expectativa de poder é mais suculenta e atrai mais moscas que os acordes das canções de despedida.

A menos de um ano das eleições, soa ao longe a valsa do adeus. Acelera-se a contagem regressiva para o adeus aos sonhos megalomaníacos do ex-capitão. Inspirado no exemplo de Trump e na cartilha da direita radical populista, descrita por Benjamin R. Teitelbaum, no livro Guerra pela Eternidade, segue obediente a receita para provocar o caos. O passo a passo é desacreditar as instituições democráticas, praticar afoitamente o desrespeito aos direitos humanos, descuidar deliberadamente do meio ambiente e dos povos tradicionais. E falar mal, muito mal das vacinas. A receita pode eleger um Viktor Orban, na Hungria, mas aqui, não mais.

Além da safra de más notícias, enquanto o ex-capitão ataca as vacinas, a Anvisa libera a imunização para as crianças e o STF exige passaporte vacinal; e o mundo redobra a atenção para conter a disseminação da ômicron. Na contramão dos sonhos negacionistas.

E como se não bastasse, o ex-deputado do baixo clero, com quase 30 anos de mandato de capitão, ainda tem que comer na mão do Lira.
A vida está dura para o candidato do Valdemar. Caminhando no deserto, a vitória é uma miragem.