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Otávio Rêgo Barros

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Assisti ao primeiro debate de 2022 e não me empolguei

Eleições 2022 - Debates precisam ser aprofundados - Agência Brasil - Arquivo
Eleições 2022 - Debates precisam ser aprofundados Imagem: Agência Brasil - Arquivo

Colunista do UOL

09/08/2022 00h00

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A Rede Bandeirantes conduziu o primeiro debate de 2022 com candidatos aos governos dos Estados, pontapé inicial da exposição oficial dos políticos desejosos de conquistar cadeiras no Executivo e Legislativo.

Regionalizado, os debates ficaram restritos à transmissão no âmbito de cada unidade federativa. Estando no Rio de Janeiro, como consequência, acompanhei os candidatos ao governo desse Estado.

Nervosos, mas controlados, deixaram lacunas cognitivas que deverão ser exploradas ao longo das campanhas. Não me foram convincentes nesse momento.

Talvez a exiguidade do tempo ou mesmo a falta de claros projetos de governança os impedissem de conquistar o público interessado em escutá-los no domingo à noite.

Os temas de sempre - saúde, educação, transporte e segurança - foram escolhidos para balizarem as discussões. Em próximos embates, é preciso ampliar o escopo de assuntos. Geração de emprego, investimentos no Estado, cuidados com o meio ambiente, por exemplo, são itens que devem ser agregados à discussão.

As equipes de campanha atuaram corretamente. O mídia training funcionou como instrumento defensivo para fugir das questões espinhosas e devolver a bola quadrada ao arguente. Mas não avançou em direção a soluções.

O governador, candidato à reeleição, viu-se assediado por denúncias de criação de cargos fantasmas, nos quais seus detentores sacaram dinheiro vivo sem controle administrativo eficaz. Parece ser prática rotineira na política fluminense guardar dinheiro no colchão de casa...

Seu principal oponente quis nacionalizar o debate e auferir lucros em cima da imagem do ex-presidente Lula, que detém vantagem nas pesquisas, jogando o ônus da rejeição do atual presidente para o governador, renhido aliado. Todavia, teve o seu dia de caça ao ser censurado por exacerbar as críticas aos órgãos de segurança pública, enquanto se mostra leniente com criminosos.

O candidato do Partido Novo, acusado de falta de experiência executiva para governar um Estado com desafios incontáveis, teve que se valer da boa gestão do companheiro de partido no Estado de Minas Gerais para minimizar essa suposta deficiência. Um companheiro que, aliás, abdicou de participar com transparência democrática do debate em seu Estado. Contraditório, portanto, com o discurso professado.

Por fim, o pupilo do ex-governador Leonel Brizola, vestindo as cores da agremiação do Partido Democrático Trabalhista (PDT), tentou fazer "tabelinha" com outros candidatos para atacar o atual incumbente, mas recebeu contra-ataques pela falta de ordenamento urbano na cidade que governou, além de falhas no sistema de saúde municipal.

Certamente em outros locais de debates situações semelhantes ocorreram. Você termina um programa como esse frustrado. Quais as propostas - o que realmente interessa - de cada candidato para os desafios de seu Estado?

Justiça se faça. Aqueles que se submeteram ao escrutínio público, deram mostras de que se enquadram no jogo democrático do convencimento. Talvez tenha sido esse o maior ganho para a sociedade.

Outro ponto pitoresco foi a presença do Google, ferramenta de pesquisa citada por vários debatedores. Tornou-se biblioteca a ser consultada por defesa e acusação. As ofensas aos oponentes foram reforçadas, iluminando posturas pretéritas guardadas nas nuvens. A internet não esquece.

As últimas campanhas mostraram que não há como fugir de ocupar o espaço digital. Ele veio para ficar e, certamente, assumirá preponderância como meio de cooptação eleitoral.

Agora é aguardar o embate de ideias para o encontro dos candidatos à Presidência da República. O tão esperado duelo do bem contra o mal, sem que saibamos quem é quem.

Sem que saibamos se Thanos, o impiedoso vilão, vencerá os Vingadores (netos nos levam a assistir as séries da Marvel). Ou se unidos, os super-heróis, vestidos com a capa da Democracia, possam dar fim ao espectro de um armagedon que teima em se avizinhar na política nacional.

Talvez nem tenhamos um debate ou ele se torne irrelevante pela ausência dos principais e mais bem colocados concorrentes em pesquisas de intenção de voto.

Os que despontam na liderança não quererem correr o risco de escorregar nas cascas de banana jogadas por competidores em busca de fatos novos que mexam com o jogo eleitoral estagnado.

À medida que as pesquisa se consolidam, os líderes vão preferindo a solidão das conversas unidirecionais com seus sabujo seguidores, em claro figurino autoritário e populista.

O enfrentamento salutar e maduro, que fique para um segundo turno, se ocorrer.

Infelizmente, para nós eleitores, não há como obrigá-los a sair de seus casulos. Mas há como puni-los pela covardia: seu voto, sua revanche.

Paz e bem!