Moraes morde isca de Musk ao ameaçar tirar X do ar tão perto da eleição
O ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, "mordeu a isca" de Elon Musk ao ameaçar tirar a rede X do ar nas próximas 24 horas caso ela não indique um representante legal no Brasil.
Essa é a avaliação de políticos da esquerda, da direita, fontes do governo federal e também de especialistas ouvidos pela coluna.
Duas semanas atrás, o X anunciou o fechamento de seu escritório no país e demitiu todos os seus funcionários. A rede culpou Moraes, alegando que o ministro havia ameaçado de prisão seu principal representante caso não bloqueasse alguns perfis.
A despeito da polêmica sobre a intimação via a própria rede social (afinal o X não tem mais representante legal no país), o ministro agora reage numa decisão tecnicamente correta, mas polêmica e sem nenhuma estratégia política.
Pelo código civil brasileiro, uma empresa não pode atuar no país sem representante legal. Isso não significa necessariamente ter um escritório e funcionários. Bastaria a indicação de um banca de advogados. É provavelmente o que o X faria numa situação normal.
Só que Musk utiliza o X, antigo twitter, como plataforma política. Desde a aquisição, em outubro de 2022, a rede já perdeu significativo valor de mercado por conta disso sem qualquer alteração de rumo.
O Brasil é um mercado relevante para a plataforma, mas está longe de ser a principal fonte de receita. Nesse cenário, alguns milhões a mais ou a menos não parecem fazer diferença para o bilionário. É daí que vem a avaliação de que Moraes "mordeu a isca".
Talvez os executivos do X se preocupem com a imagem que o banimento da rede no Brasil vai passar para os reguladores americanos e europeus, já que por aqui estamos numa democracia. Mas até essas comparações entre países vão ser utilizadas pela direita, pois o Brasil não estará em boa companhia. Entre os países que o X não atua, estão China, Mianmar, Rússia, Irã e Coreia do Norte.
A decisão de Moraes também é polêmica, porque prejudica não só a empresa, mas todos os usuários da plataforma. A interrupção dos serviços do X atrapalha o funcionamento de pequenos negócios, campanhas de marketing, e, principalmente, interrompe um importante meio de comunicação para uma fatia dos brasileiros.
Do ponto de vista político, é uma bomba para o campo progressista às vésperas das eleições municipais e um presente para a direita. Se Moraes efetivamente cumprir a ameaça, a extrema direita ganha um megafone para gritar "censura" em todas as demais plataformas.
Candidatos como Pablo Marçal (PRTB), que já está empatado na liderança com políticos tradicionais na corrida para a Prefeitura de São Paulo, tendem a ganhar ainda mais fôlego nas disputas.
Políticos de esquerda ouvidos pela coluna sob a condição de anonimato dizem que o Supremo está "enclausurado" e perdeu a conexão com os desafios reais do país e as mediações que isso exige.
Agora a situação fica na dependência de um certo bom senso de Musk em preservar suas operações no Brasil. Só que ele não é exatamente conhecido por ter bom senso.
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