Raquel Landim

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Opinião

Depois de comunicação errática, Campos Neto e Galípolo acertam os ponteiros

Roberto Campos Neto e Gabriel Galípolo acertaram os ponteiros. Depois de uma comunicação errática, que prejudicou o preço dos ativos, o atual e o futuro presidente do Banco Central optaram pelo mesmo caminho: uma alta gradual e lenta da taxa de juros.

Em decisão unânime, o Copom (Comitê de Política Monetária) deu início ao ciclo de aperto monetário nesta quarta-feira (18) com um aumento de 0,25 ponto percentual da taxa Selic para 10,75%.

Politicamente seria um desastre e economicamente não faria muita diferença neste momento um aumento de 0,25 ponto porcentual ou 0,5 ponto porcentual dos juros. Optou-se então pelo ritmo mais lento.

O mais importante foi a unidade entre os diretores que deixam o BC, capitaneados por Campos Neto e indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, e os que chegam à autarquia, sob a batuta de Galípolo e escolhidos pelo atual mandatário Luiz Inácio Lula da Silva.

A decisão unânime mostra que ainda está viva na memória o dano provocado pela divisão recente do Copom, atribuída a uma diferença sobre o "forward guidance" - explicação que o mercado não comprou e colocou na conta de uma possível orientação política.

O comunicado da reunião do Copom de hoje não deu muitas pistas de qual é o tamanho do ciclo de aperto das condições de crédito e informou apenas que será ditado pelo "firme compromisso de convergência da inflação à meta".

Se poucos meses atrás havia dúvidas da necessidade de subir os juros, o descolamento das expectativas de inflação se encarregou de fazer o consenso. A média das estimativas para o IPCA em 2024 e 2025 encontra-se, respectivamente, em 4,4% e 4%.

A meta de inflação está em 3% com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual. Ou seja, há risco de estourar essa estimativa e o BC ter que escrever uma carta se explicando para o Congresso.

A inflação ganhou força porque a economia segue aquecida, particularmente por causa dos gastos do governo. A política fiscal mais frouxa estimula o consumo.

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O risco é, se não houver a contrapartida necessária de investimentos, esse consumo se transformar apenas em pressão inflacionária e não em crescimento sustentável.

A inflação também deu uma guinada porque o câmbio se desvalorizou. E a moeda ficou mais fraca por causa da menor credibilidade do governo e de sua política fiscal. É um ciclo que se retroalimenta se a causa não for sanada.

Alguns poucos vão reclamar do BC, questionando porque o Brasil sobe os juros, enquanto os americanos derrubam. Às vezes é preciso dizer o óbvio. Por lá, a economia está desaquecendo e a inflação em queda.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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