Em cinco dias, agências têm avaliações opostas da política fiscal do Brasil
Quem está certa: Moody´s ou Fitch?
Com um intervalo de apenas cinco dias, duas das maiores agências de rating do mundo tiveram avaliações totalmente distintas da política fiscal brasileira.
No dia 26 de setembro, a Fitch ameaçou rebaixar a nota do Brasil após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reclamar numa reunião em Nova York que as agências só ouviam a "Faria Lima".
Para a Moody´s, o descompasso entre a política fiscal e o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) poderia afetar a classificação de risco do país.
"As principais medidas de receitas são transitórias ou têm benefícios incertos", afirmou a Fitch em nota. "Estas medidas improvisadas demonstram um compromisso com as metas fiscais, mas não oferecem melhorias fiscais estruturais."
Ou seja, a agência criticava as medidas de aumento de arrecadação perseguidas pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e aprovadas no Congresso com palavras duras. Classificou de "transitórias" e "improvisadas".
Nesta terça-feira (1), a Moody´s foi no caminho totalmente oposto. A agência não só elevou a classificação de risco do Brasil, colocando um degrau abaixo do nível de investimento, como deixou o outlook no "positivo".
A perspectiva positiva significa que a Mooody´s pode revisar a nota nos próximos 12 a 18 meses, fazendo o governo Lula sonhar com a recuperação do grau de investimento - o que seria uma vitória política e tanto.
O grau de investimento é o selo de bom pagador, que atrai muitos recursos de fundos internacionais. Um carimbo que o atual presidente conquistou em seu primeiro mandato e que sua sucessora Dilma Rousseff perdeu em 2015, quando o Brasil mergulhou numa grave crise econômica.
"A elevação reflete a melhoria no perfil de crédito do Brasil, que esperamos que continue, incluindo um crescimento econômico mais robusto do que o esperado e o avanço de reformas econômicas e fiscais", escreveu a Moody´s.
Não há dúvida de que o crescimento da economia brasileira é surpreendente. O Banco Central revisou sua projeção de PIB de 2,3% para 3,2% este ano.
É resultado de um mercado de trabalho forte e gastos públicos em alta por causa das transferências de renda. A contrapartida tem sido inflação resistente e aumento dos juros, porque faltam investimentos para elevar a oferta.
Analistas dizem que a Moody´s focou mais no crescimento, enquanto a Fitch está mais preocupada com a solidez fiscal.
Ao contrário do governo Lula 1 em que o Brasil acumulava superávits, devemos ter anos sucessivos de déficits e de aumento da relação dívida/PIB nesse terceiro mandato de Lula.
No Tesouro Nacional, o clima na noite desta terça-feira era de festa. Os técnicos do governo concordam com a Moody´s, que teria reconhecido os seus esforços.
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Quero receberNa Faria Lima, estavam todos surpreendidos. Muitos discordavam da elevação do grau de investimento do Brasil e diziam que a agência precisava se explicar.
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