Marielle Franco não merecia ter um Quaquá na Habitação do Rio
O governo tribalista de Eduardo Paes, aquele que é de todo mundo e todo mundo lhe quer bem, já chegou ao sétimo secretário de Habitação desde 2021. Sete secretários em pouco mais de quatro anos. Nenhum consegue esquentar a poltrona. O atual é o precoce Diego Zeidan, de 26 anos, filho do prefeito de Maricá, Washington Quaquá, do PT. O nepobaby foi secretário na prefeitura de Maricá aos 19 aninhos; aos 24, o prodígio se licenciou do cargo de vice-prefeito de Maricá para assumir um órgão criado por Paes sob encomenda pra ele, a Secretaria de Economia Solidária.
Para apoiar a reeleição de Paes, o PT exigiu em 2023 um cargo para Quaquazinho. A recompensa foi uma pasta com orçamento mais polpudo (R$ 350 milhões em 2025) para o Quaquá-baby. A família deve encher a boca pra criticar a meritocracia. Mas você esperava que o PT exigisse uma secretaria pra colocar algum arquiteto militante, desses encostados pelo partido? Não. Primeiro, os herdeiros.
O Rio de Janeiro tem 22% da população da cidade em favelas, incluída a maior do país, a Rocinha; e dezenas de conjuntos habitacionais decrépitos, do Centro à Zona Norte e Zona Oeste. O maior déficit habitacional do Rio é qualitativo, de barracos a moradias que imploram por manutenção. Pra que dar continuidade ou status intelectual ao comando da Habitação? Pode ficar sob o Quaquazinho.
Quaquá-pai, que acaba de voltar à prefeitura de Maricá e é vice-presidente nacional do Partido dos Trabalhadores, é amigaço assumido dos irmãos Brazão. Aqueles acusados de mandantes do assassinato de Marielle Franco. Posta fotos com eles nas redes sociais, diz que os Brazão foram "presos injustamente", quer um pente fino no inquérito feito pela Polícia Federal. Defende o inquérito feito pela Polícia Civil do RJ. Até sugeriu uma "comissão de juristas" para reavaliar o caso e inocentar os chapas.
A vereadora foi assassinada por desafiar e investigar grileiros e milícias que atuavam no campo da... Habitação! O maior mercado imobiliário carioca, o que mais cresce e o que não precisa se submeter a planos diretores ou zoneamentos, é o dominado por milícias da Zona Oeste. Que Marielle ousou incomodar. O PT carioca mata de inveja qualquer coronel do sertão do século passado. É pra fazer quaquá, só que de raiva.
Niemeyer de Maricá
Mas a política fluminense é muito mais debochada do que qualquer piada do prefeito Paes sobre São Paulo. Em 2016, Paes chamou Maricá de "merda de lugar" em uma conversa privada com Lula. Pouco depois, Paes ganhou o título de cidadão maricaense, com a presença dos petistas Fabiano Horta, que era prefeito da cidade, e Quaquá, então ex-prefeito. Amor próprio em Maricá deve ser algo mais escasso que preocupação com habitação na prefeitura do Rio. Ventilação, insolação, bons materiais, relação generosa com a calçada? Não viram assunto.
Se arquitetura de qualidade para moradia social está em falta no Rio, parece sobrar dinheiro para arquitetura-espetáculo em Maricá. Quaquá-pai, o prefeito, recebeu na semana passada Kadu Niemeyer, com um projeto de aquário que teria sido feito por seu avô, Oscar Niemeyer. Além do aquário, Washington Quaquá prometeu construir outros cinco prédios supostamente desenhados por Niemeyer. Talvez com a ajuda de um médium. Tem até estádio de futebol, o tipo de obra que administrações do PT amam fazer. O estádio vai transbordar função social.
Maricá está prestes a entrar para a história da arquitetura brasileira! Contratamos seis projetos assinados pelo icônico Oscar Niemeyer, que irão transformar nossa cidade em um polo cultural e turístico sem precedentes.https://t.co/ubfEPcmeHs pic.twitter.com/2tNvQ9ABVx
? Washington Quaqua Oficial (@Quaqua13_) January 10, 2025
Maricá é a campeã nacional no recebimento de royalties de petróleo, cerca de R$ 2,5 bilhões por ano. Tomara que o aquário tenha água limpa - 66% dos domicílios da cidade não têm esgoto ligado à rede da estatal Sanemar. Dependem de fossas improvisadas. Aliás, do ranking do Ideb das escolas à mortalidade infantil, Maricá tem números de cidade bem pobre. Administrações "democráticas e populares" não são muito chegadas em investir pesado em saneamento ou educação de ponta quando tem dinheiro jorrando. Preferem construir ícones instagramáveis.
Fuzilamentos justificados
Mas não existe maior desprezo no Rio de Janeiro em relação ao Urbanismo que a nomeação de Elias Jabbour para presidir o Instituto Municipal de Urbanismo Pereira Passos. Apesar da vasta produção como twitteiro, ninguém consegue achar um mero sinal de interesse de Jabbour em cidades ou urbanismo. Mas a visão de mundo de Jabbour é muito pior que o currículo inexistente pro cargo. Jabbour já defendeu fuzilamentos nos regimes comunistas e declarou que Stalin merecia o Nobel da Paz; prega que o Líbano seja governado pelo Hizbulá (!!!); chorou a queda de Bashar al-Assad na Síria e diz que a Coreia de Norte é "difamada".
Xinga os EUA diariamente e até já chamou Obama de "serial killer", mas é tchutchuca de Putin, Kim Jong Un e Xi Jinping (que obviamente não matam, nem envenenam uma mosca). Também elogia os projetos pífios de "habitação popular" da Venezuela. Deve ser porque 25% dos venezuelanos tiveram que abandonar o país, fugindo da ditadura bolivariana, e muita casa ficou vazia.
Sobretudo, Jabbour é um apologista sem freios da China. Tão desinformado, o militante repete sem parar que a China "é o país que mais cresce no mundo", ignorando que a China desacelerou bruscamente graças ao intervencionismo do camarada Xi (e não só pela condução desastrada da Covid). O radicalismo de Jabbour lembra o dos mais aloprados bolsonaristas, mas no outro extremo ideológico. Não dá pra se rebelar contra golpistas, defender democracia e direitos humanos e se emocionar com Eunice Paiva pela manhã, e à tarde se calar diante de discursos repugnantes pró-paredón para adversários.
Não é a primeira sinecura estatal para Jabbour. Foi assessor de Dilma Rousseff no banco dos Brics, em Xangai. Mas a experiência na China real não deve ter sido tão agradável, que já voltou para o seu Rio de Janeiro depois de um ano e meio na cidade mais ocidental da China, e foi recompensado por Paes. Como a Habitação, o IPP não deve ser muito estratégico para Paes.
O IPP já foi responsável por programas como Rio Cidade, Favela Bairro e Morar Carioca. Já teve à sua frente urbanistas e arquitetos como Washington Fajardo e Manoel Vieira; um político, jornalista e ambientalista de peso, como Alfredo Sirkis; e o economista especializado em educação e desenvolvimento social Ricardo Henriques. Claramente, ficou sem status.
Nisso, Paes segue as regras de seu padrinho, o presidente Lula, que tampouco leva urbanismo a sério. O Ministério das Cidades jamais teve um arquiteto ou urbanista no comando. O atual ministro indicado por Lula para a pasta é Jader Barbalho Filho, da dinastia que manda no Pará há décadas (vale checar o urbanismo humanista de Belém). Jader Filho não é da área. Com especialização em marketing, dirigiu o conglomerado de comunicação da sua família no Pará.
Como urbanismo, arquitetura e moradia social de qualidade não estão na playlist do trio Lula - Barbalho - Paes, já podemos antever o legado dos novos Jogos Panamericanos de 2031 que Paes pleiteia levar para o Rio. Mais um evento bilionário, na linha COP de Belém, Olimpíada ou Copa do Mundo, com seu rastro de monotrilhos abandonados. Em vez de deixar um mísero Calatrava como legado na praça Mauá, e algumas vilas para atletas vazias ou afundando no extremo oeste carioca, a turma pode construir para o Pan de 31 mais uma obra superfaturada de Niemeyer. É só pedir as coordenadas, e o médium, pra Quaquá.
12 comentários
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Marcos Fernandes dos Santos
Lulismo e Bolsonarismo, são a mesma moeda, separada por lados. Os políticos no Brasil não estão dando certo, atrapalham mais do que ajudam, interesses pessoais estão sempre a frente. A população é ludibriada com maquiagem, exemplo citado do aquário, enquanto defeca em buracos, contaminando o solo e a água, esse é o Brasil, de vinhos importados para os políticos e água contaminada para os pobres.
Paulo Bento Bandarra
Acho que o povo que não merecia. Mas fazer o que? O povo que elegeu a malta.
Marcio Andre Lima Santiago
Acho que podem tem outros mandantes no assassinado de Mariele, nunca foi esclarecido a entrada de Rone Lessa na casa de bolsonaro no condomínio vivendas da barra, por que Carlos Bolsonaro pegou os dados de entrada e saída da portaria do condomínio? O porteiro que afirmou que Rone foi a casa de bolsonaro no dia do assassinado da Mariele.