Raul Juste Lores

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Opinião

Tabata, Tebet e o chamado desesperado para o voto útil em Boulos

Do almoxarifado em um subsolo de Brasília onde estão exilados, Geraldo Alckmin (PSB) e Simone Tebet (MDB) têm tempo livre para promover um seminário sobre o que significa "frente ampla" na cartilha do PT. Do voto útil e do convite para se associar ao petismo. E como não petistas ganham protagonismo em gestões do partido, se sacrificarem suas ambições.

Marina Silva (Rede), que engoliu mil frituras e rasteiras para a então senhora Dilma Belo Monte Roussef (PT), poderia ministrar a aula inaugural. A mesma Marina, atualmente desidratada no Planalto pela turma que quer petróleo no Amazonas. Em 2018, Lula preferiu eleger Bolsonaro do que perder o controle da esquerda para Ciro Gomes (PDT). O velho caudilho vai repetir a estratégia agora, ajudando a eleger Ricardo Nunes (MDB), o impopular prefeito da Pauliceia. Lula já sumiu da campanha de Guilherme Boulos (PSOL), deixando mais um aliado naufragar.

Nem Tabata, nem os eleitores dela, parecem muito sensibilizados pelos pedidos de ultimíssima hora por um voto útil contra a única candidata mulher competitiva no pleito. A convocação feita por partidários de Boulos soa a desespero e é um antimarketing. Meio que assume que podemos ter um segundo turno entre Nunes e o coach Pablo Marçal (PRTB).

Muitos signatários são artistas cariocas, que nem votam aqui (será que a esquerda nem sequer consegue arregimentar artistas paulistanos a esta altura?). Muitos outros parecem só ter se lembrado que há eleições neste domingo agora, apesar de Boulos estar estacionado entre 23 e 25% nas pesquisas há mais de dois meses. É o alto preço de uma vida muito mais desfrutada entre o Sahy, Catuçaba, São Francisco Xavier, litoral do Nordeste e Nova York do que na Freguesia ou no Largo Treze.

Mano Brown falou há anos que o PT estava longe do povo, e a situação só piorou. Sabe aquela elite culta que choraminga a palavra "gentrificação" semanalmente, mas encarece tudo o que toca? Que só frequenta bares, galerias e livrarias caríssimos no Centro gentrificado por eles? Seu poder vira-voto é reduzidíssimo. Ninguém vive em bolhas esnobes o ano inteiro impunemente.

Abaixo-assinados de "intelectuais" perderam bastante da respeitabilidade depois de uns 20 consecutivos defendendo Hugo Chávez e Nicolás Maduro nas últimas duas décadas, por gente que jamais pisou em Caracas. Depois que 7 milhões de venezuelanos fugiram da ditadura de esquerda, esses intelectuais se calaram, mas voltaram a assinar manifestos sobre temas que acompanham de longe, muito longe.

As chances de Tabata

Não que Tabata possa chegar ao segundo turno, mesmo com as pesquisas dizendo que ela seja a única capaz de derrotar Nunes ou Marçal. Sua campanha passou meses e meses falando da sua vida, do seu namorado, de como conheceu seu namorado, da sua mãe, de como a mãe conheceu o seu namorado, do seu pai, de Harvard. Esse eu-centrismo não conseguiu atrair um grande eleitorado.

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Muitos de seus maiores doadores também são empresários cariocas que mal conhecem São Paulo, e que jamais fazem uma única atividade a pé, fora de um condomínio fechado. Seus maiores apoiadores na cidade vivem no circuito Alto de Pinheiros - Jardim América. Passam mais tempo debatendo as propostas de Kamala Harris do que estudando melhorias no transporte público ou na habitação social. É uma turma que acha que ser bem-intencionada compensa sua vida anti-urbana, encastelada. Nesse aspecto, são tão alienados quanto a esquerda rica boulista. Tabater ou Bouler, nosso progressismo é bastante Trump em seu cotidiano, sem se misturar com as massas.

Só mesmo a postura corajosa de Tabata contra Marçal a fez alcançar os magros 11%. O consórcio PT-PSOL poupou Marçal enquanto pôde, repetindo o pior da "estratégia" que elegeu Bolsonaro em 2018, e agora é tarde.

(Como meu enésimo protesto pela falta de espaço ou interesse para se falar de propostas para cidade, inclusive entre meus colegas jornalistas, colo aqui um vídeo que acabo de fazer sobre cinco urgências para São Paulo:

Boulos no segundo turno

Boulos não quis ou não conseguiu moderar sua imagem e seu discurso para aproveitar a impopularidade, a gestão sem ideias (apesar do orçamento robusto) e a pouca graça do prefeito.

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Quem conhece Boulos nos bastidores sabe que ele é mais inteligente, mais flexível e menos dogmático que sua persona pública. Mas o candidato não quis desagradar sua base de votos cativos (o fã-clube é bem mais radical e agressivo que o líder).

Na campanha, Boulos falou mais da verticalização de Pinheiros que da de Pirituba, e mais de Taylor Swift que de empreendedorismo. Como conivência com corrupção é um ponto fraco do petismo, nem puderam explorar os escândalos de creches a licitações de emergência. Boulos até deve passar para o segundo turno, mas isso é pouco. Há quatro anos, perdeu por quase 20 pontos percentuais para o debilitado Bruno Covas (1980-2021).

Para sorte do que resta de racionalidade em São Paulo, a misoginia descontrolada de Pablo Marçal pode tirá-lo do segundo turno. Se for, é outro que deve perder facilmente para Nunes.

Como já tinha alertado neste espaço, frases como "tem que ser macho", "tem que ser homem", ditas pelo candidato de Alphaville, afastam o dominante eleitorado feminino. O pouco lido Marçal nunca deve ter ouvido falar de Thatcher ou Merkel para exibir tamanha ignorância. Antes mesmo de falar que mulher inteligente não vota em mulher, Marçal já tinha virado recordista de rejeição.

Sem esses merecidos percalços, Marçal deixaria a esquerda fora do segundo turno da eleição paulistana, um feito inédito desde que eleições têm dois turnos. Mas chinelas de humildade, pragmatismo e estratégia estão longe da turma que sempre solta a mão dos aliados depois da vitória.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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