Uma alegria chamada Sesc Verão
A quadra do sétimo andar do Sesc Pinheiros, em São Paulo, está bem mais cheia do que em um domingo normal. Em vez de uma única modalidade, o espaço está ocupado por diversas atividades: uma parede de escalada, um circuito de obstáculos, slackline, quatro redes de badminton, estações de ginástica rítmica —arco, fita, bola. E mesmo duas tabelas de basquete, recolhidas para abrir alas à profusão esportiva, acabam fazendo parte da ação involuntariamente.
Há alguns esportistas — profissionais e amadores —, mas a maioria está tendo contato pela primeira vez com essas modalidades. Há adultos, idosos e adolescentes, e muitas, muitas crianças. Quem quer pode participar de uma aula-relâmpago de arco. Se preferir, pode arriscar livremente algumas raquetadas no badminton. Eu tentei e foi patético, só não menos do que minha atuação no slackline, desmoralizado por duas meninas — minhas filhas. Elas cruzaram sem maiores problemas os três metros de linha suspensa. Eu falhei em todas as tentativas.
Há 30 anos, o Sesc Verão se espalha por todas as unidades no estado de São Paulo. São aulas abertas, vivências, bate-papos e apresentações esportivas. Há também um caráter de ocupação da cidade, com aulas abertas na praça Ramos de Azevedo, em frente ao Teatro Municipal, e uma arena para esporte de areia no Vale do Anhangabaú.
A programação completa inclui mais de mil atividades, de 4 de janeiro a 16 de fevereiro. Tudo gratuito. Chance para se iniciar em uma enorme quantidade de modalidades que cada um pode, por que não, passar a chamar de sua.
Para além de campeonatos e torneios — até hoje, quase sinônimos de prática esportiva —, a proposta é ampliar o acesso ao esporte. Esporte, aqui, é entendido em um sentido amplo. Engloba jogos, brincadeiras, lutas, ginásticas e danças. Convida a repensar regras para que todos e todas possam participar. Provoca: sendo quem somos, faz sentido jogar o jogo conforme as regras oficiais? Ou é melhor adaptar?
Como diz Marcos Garcia Neira, pró-reitor-adjunto de graduação e professor da Faculdade de Educação da USP, as práticas corporais dialogam com as culturas, são artefatos culturais que têm uma relação direta com as identidades dos grupos que produzem essas práticas.
Pode-se descobrir uma prática que se torne parte da rotina, ou apenas ter contato eventual com a dimensão lúdica das modalidades. Uma possibilidade é, sim, jogar por performance, mas outra é participar apenas porque é gostoso, dá prazer e faz bem.
A dimensão do alto rendimento está presente na forma de palestras e apresentações com astros olímpicos de diversas modalidades. Mas não há glamourização ou a intenção manifesta de incentivar o surgimento de novos campeões olímpicos. Ver a ginasta Jade Barbosa entrando no Sesc Pompeia de cadeira de rodas, por causa de uma cirurgia no joelho direito, põe as crianças em contato direto com um ídolo, mas também encarna o preço elevado de uma vida inteira dedicada às competições.
No fim, a profusão de modalidades é só uma desculpa. O efeito mais bem-vindo de iniciativas como o Sesc Verão é o encontro. Em uma sociedade ainda machucada pelo isolamento da pandemia e de relações cada vez mais virtuais, é um alento perceber que o coletivo e o presencial ainda fazem sentido. Mesmo que seja para brincar, o que aliás talvez seja uma das melhores coisas para se fazer junto.
2 comentários
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Adriana Gomes da Silva Justina
Sim, é isso, o encontro… Amo o Sesc e toda a diversidade que ele proporciona!
Antonio Carlos Heiselmann
O Sesc é o Brasil que deu certo.