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Rogério Gentile

REPORTAGEM

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Justiça bloqueia R$ 83,8 mil das contas da "mulher da casa abandonada"

A casa abandonada, em Higienópolis - Simon Plestenjak/UOL
A casa abandonada, em Higienópolis Imagem: Simon Plestenjak/UOL

Colunista do UOL

19/07/2022 10h27

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A Justiça paulista bloqueou R$ 83,8 mil das contas bancárias de Margarida Maria Vicente de Azevedo Bonetti, mulher que vive em mansão abandonada em Higienópolis, em São Paulo.

A história de Margarida é tema do podcast "A Mulher da Casa Abandonada", produzido pelo jornalista Chico Felitti para a Folha de S.Paulo. A mulher, que esconde o rosto com uma pomada branca, escapou da lista de procurados do FBI sob acusação de ter escravizado uma empregada durante duas décadas.

O bloqueio foi determinado em abril pela juíza Paula Velloso Rodrigues Ferreri em razão de um processo movido pelo Condomínio Três Barões, localizado na avenida Angélica, em Higienópolis.

Pertencente a uma família tradicional de São Paulo, Margarida Bonetti é, de acordo com o processo, proprietária de um apartamento de 103 metros quadrados no edifício, que lhe foi doado por um parente em 1988.

O processo foi aberto pelo condomínio em razão de uma multa que Margarida recebeu em 2015, quando uma parente dela, que mora no imóvel, teria sido flagrada rabiscando o hall do andar do apartamento. "Ao perceber a movimentação incomum, a vizinha, por meio do olho mágico, realizou a gravação do ato e reportou os fatos à administração", declarou o condomínio no processo.

O edifício cobra R$ 7.800, valor que inclui a multa e o ressarcimento pelas despesas com a pintura do hall, além dos juros, dos honorários advocatícios e das custas do processo.

Os R$ 83, 8 mil bloqueados foram encontrados em duas contas bancárias mantidas pela "mulher da casa abandonada". Os valores cobrados pelo condomínio serão penhorados e a diferença devolvida para Margarida, que não apresentou advogado no processo e é representada pela Defensoria Pública.

Margarida é neta Francisco de Paula Vicente de Azevedo, o Barão de Bocaina, título que recebeu por decreto do Imperador D. Pedro II. Ele foi banqueiro, comerciante e diretor da Estrada de Ferro São Paulo-Rio de Janeiro e do Banco Comercial do Estado de São Paulo.

A casa abandonada pertenceu ao pai de Margarida, Geraldo Vicente de Azevedo, que foi chefe da Santa Casa de Misericórdia, e morava no local com sua esposa, Maria de Lourdes Danso Vicente de Azevedo.

Além da riqueza, o casal era conhecido na região de Higienópolis pelas ações generosas, como a distribuição de comida e roupas para os moradores de rua.

O médico faleceu em 1998. A mãe, em 2011.

Margarida continuou a morar no local, e hoje o imóvel está coberto por vasta vegetação, sem saneamento básico.

A polícia abriu investigação para apurar se ela sofre de distúrbios psicológicos e foi abandonada.