Rogério Gentile

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Reportagem

'Você cheirou?': juiz diz que Nunes não ofendeu Boulos e nega indenização

A Justiça paulista rejeitou o processo por danos morais aberto pelo deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) contra o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (PMDB).

Na campanha eleitoral do ano passado, durante o debate da TV Cultura, Nunes perguntou a Boulos se ele havia "cheirado" após o candidato do PSOL lhe fazer uma acusação de envolvimento com a "máfia das creches" e citar a facção criminosa PCC.

"Você cheirou? Você está louco, rapaz?", questionou o prefeito.

Boulos disse na ação que a pergunta de Nunes fez parte de uma campanha de desinformação iniciada por Pablo Marçal, também candidato a prefeito de São Paulo à época, que tentara retratá-lo como usuário de drogas com base em documentos falsos.

"Nunes tentou potencializar a boataria", afirmaram os advogados de Boulos à Justiça. "Foi um ato deliberado e consciente, com o único intuito de macular a imagem do autor do processo".

O deputado do PSOL, que exigia uma indenização por danos morais de ao menos R$ 20 mil, disse na ação que Nunes ensaiou cuidadosamente suas palavras.

"A eventual condescendência do Judiciário com o discurso difamatório só contribuirá para a escalada de hostilidade política como as que foram notoriamente vivenciadas no mesmo debate, quando um candidato recorreu à violência física contra uma injusta ofensa de outro", José Luiz Datena em Marçal.

Na defesa apresentada à Justiça, o prefeito de São Paulo disse que não cometeu nenhum ato ilícito e que "as palavras devem ser compreendidas no ambiente da retórica política". "Foi uma resposta retórica e direta a uma acusação grave e absolutamente inverídica", declarou o prefeito ação.

Ao rejeitar o pedido de indenização, o juiz Claudio Marquesi disse que o episódio ocorreu em um dos últimos debates da eleição, "em um momento de extrema vulnerabilidade emocional, pois Nunes acabara de ouvir acusações muito graves sobre a sua pessoa".

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"Claramente [Nunes] teve uma reação irrefletida, quase não acreditando na gravidade da acusação que lhe era dirigida", afirmou na sentença. "No momento do nervosismo, intensificado pelo contexto do debate ao vivo, não conseguiu escolher palavras mais adequadas", disse o juiz.

O magistrado declarou no processo que Nunes teve uma "reação impulsiva", e que não se pode dizer que ele, ardilosamente, queria reforçar a fake news promovida por Marçal contra Boulos. "Não houve ofensa ao patrimônio imaterial do autor do processo."

Boulos, pela decisão, terá de pagar R$ 2.000 em honorários os advogados de Nunes. O deputado ainda pode recorrer.

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