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Thaís Oyama

A chave para entender o depoimento dos generais

Colunista do UOL

13/05/2020 09h37Atualizada em 13/05/2020 12h18

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A chave para entender a versão da defesa de Jair Bolsonaro no inquérito sobre as acusações de Sergio Moro está na fala do ministro Luiz Eduardo Ramos. Em seu depoimento, Ramos corroborou a versão do presidente da República de que ele estava se queixando da maneira como vinha sendo conduzida a sua "segurança pessoal" e de seus familiares —e não a superintendência da PF (Polícia Federal) no Rio, como disse o ex-juiz da Lava Jato.

O UOL obteve a cópia do depoimento do general: "Também foi dito pelo presidente Jair Bolsonaro, na mesma reunião do dia 22 de abril de 2020, que, a título de exemplo, se ele não estivesse satisfeito com sua segurança pessoal realizada no Rio de Janeiro, ele trocaria inicialmente o chefe da segurança e, não resolvendo, trocaria o ministro".

A frase que vem a seguir no depoimento é: "e nesse momento olhou em direção ao ministro Heleno." A segurança pessoal do presidente e seus familiares é feita por agentes da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), órgão do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), por sua vez, comandado pelo general Heleno, como Ramos fez questão de ressaltar em seguida, acrescentando: "pode ter havido, em razão do exemplo, interpretação equivocada por parte de algum ministro, incluindo o ex-ministro Sergio Moro".

Em outras palavras: na versão de Ramos, tudo não passou de um terrível engano e Moro interpretou errado a fatídica reunião ministerial do dia 22.

Bolsonaro, insatisfeito com a condução da segurança pessoal dele próprio e de seus filhos, não se queixou da Polícia Federal em nenhum momento e nem ameaçou demitir superintendente algum ("Não existe no vídeo a palavra Polícia Federal, nem superintendência. Não existem essas palavras (...) Nunca estive preocupado com a Polícia Federal", declarou não por acaso o presidente ontem, enquanto seus ministros prestavam depoimento à PF).

Segundo a versão dos generais, Bolsonaro vociferou na reunião contra o trabalho do GSI e não contra a PF do Rio. E suas ameaças de demissão se dirigiam não a Moro, mas ao general Heleno.

Heleno matou no peito.

Resta saber se alguém vai comprar essa história.