Aras, o equilibrista, mantém Rodrigo Maia nervoso há um ano
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Há um ano, o Procurador-Geral da República, Augusto Aras, frequenta os pensamentos do presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
Em setembro do ano passado, a Polícia Federal concluiu as investigações sobre o inquérito da Lava Jato em que Maia é acusado de ter recebido dinheiro da Odebrecht em troca de favorecimento político.
Nas notórias planilhas do que ficou conhecido como Departamento de Propina da empreiteira, Maia seria o "Botafogo", beneficiário de 1,4 milhão de reais junto com seu pai, o ex-prefeito do Rio César Maia.
Em seu relatório final, a Polícia Federal atribuiu ao presidente da Câmara os crimes de corrupção passiva, falsidade ideológica eleitoral e lavagem de dinheiro.
Com base nesse relatório, Aras teria de decidir se denunciaria ou não Rodrigo Maia ao Supremo Tribunal Federal. Mas o procurador preferiu deixar o Botafogo em banho-maria.
Nada fez nem contra nem a favor dele por cinco meses. Apenas em fevereiro deste ano, resolveu pedir uma revisão da investigação, alegando que ela teria "inconsistências". A partir daí, outros três meses se passaram e nada. Em maio, o ministro Edson Fachin, relator da Lava Jato no Supremo, voltou a cobrar uma definição de Aras sobre o caso. Até hoje, o ministro espera sentado.
Augusto Aras foi indicado ao cargo pelo presidente Jair Bolsonaro sem nunca ter feito parte da tradicional lista tríplice elaborada por procuradores, de onde saíram seus antecessores.
Em consequência disso, seu mandato nasceu sob a sombra da suspeição -sombra que avançou um pouquinho mais a cada parecer dado em linha com os desejos de seu padrinho, o presidente da República.
Mas Aras, nascido em Salvador, mostrou ter a ginga dos baianos, ao menos na política.
Em abril, ao pedir a abertura de inquérito contra o presidente Bolsonaro quando da rumorosa demissão do ex-ministro Sérgio Moro, deu um jeito de enfiar o acusador junto do pacote.
Em junho, ameaçado de ficar isolado dentro da própria Procuradoria, Aras aproveitou o inquérito dos atos antidemocráticos no Supremo para pedir a investigação de apoiadores e deputados aliados de Bolsonaro, de modo a sinalizar isenção aos seu pares.
No começo deste mês, tendo de decidir se encerrava ou renovava o trabalho da força-tarefa da Lava Jato, com que vinha em rota de colisão, optou pelo caminho do meio. Não encerrou, mas esticou os trabalhos por um tempo mais curto que o solicitado. Calou assim a grita dos defensores da operação, mas sinalizou seu fim inevitável um pouco mais para frente, quando, modificada, estará devidamente "institucionalizada".
No caso de Rodrigo Maia, a quem o presidente Bolsonaro vê como um inimigo, a abordagem do Procurador-Geral da República tem sido a de manter a corda esticada, sem enforcar o galo nem soltá-lo no terreiro.
Augusto Aras completa um ano no cargo neste mês. Não decepcionou quem apostou nele. Como Procurador-Geral da República, revelou-se um tremendo equilibrista.
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