Multa, carro e trânsito unem Bolsonaro ao eleitor que a esquerda abandonou
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Jair Bolsonaro fez uma live especial ontem.
A intenção era proclamar que havia sancionado o projeto de lei que altera o Código Nacional de Trânsito.
O presidente estava muito orgulhoso.
Graças ao seu governo, ninguém mais perderá a habilitação por acumular 20 pontos de infração na carteira. Acabou. O limite agora será de 40 pontos.
Bolsonaro também informou que, daqui para frente, "multa se o farol não estiver aceso, só no túnel". Fim da história de ter de ligar as luzes do carro o tempo todo.
O presidente da República foi além. Anunciou que motoqueiros continuarão podendo ultrapassar carros da forma que sempre fizeram, cantando os pneus.
"Queriam que os motociclistas só pudessem ultrapassar filas de carros parados em baixa velocidade", disse. E, cheio de si, declarou: "Nós vetamos isso. Continua valendo uma velocidade maior para o motociclista seguir destino".
Diante da urgência de ressuscitar a economia, aprovar as reformas e frear a fuga recorde de capitais, por exemplo, seria de se perguntar: o presidente não tem mais o que fazer além de se dedicar a aumentar o limite de pontos na carteira e a velocidade com que as motos podem trafegar?
Mas Bolsonaro não vê as coisas assim.
No limitado universo das suas paixões, a mudança nas regras do Código de Trânsito é uma preocupação sincera. Tanto assim que, no ano passado, ele foi pessoalmente ao Congresso entregar o projeto nas mãos do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Isso enquanto o debate sobre a aprovação da Reforma da Previdência fervia na Casa.
Bolsonaro prioriza problemas cotidianos — de questões comezinhas, afinal, foi feita a sua trajetória política.
Ocorre que ele não é o único.
Boa parte dos motoristas brasileiros aplaudirão e darão a mesma importância que o ex-capitão às mudanças nas regras do trânsito, em especial aqueles que ganham a vida ao volante — como caminhoneiros, taxistas, motoristas de ônibus, Uber e vans.
Enquanto opositores do governo abraçam a novilíngua dos "pronomes inclusivos" e bradam a espada dos valores "pós-materiais", Bolsonaro fala de multa, carro e trânsito. E assim combina a sua estatura com as pequenas questões que permeiam e definem a vida do brasileiro cada vez mais apartado da esquerda que só enxerga o próprio umbigo identitário.
O resultado é que, mesmo com Centrão e rachadinha, Bolsonaro continua nadando de braçada.
Estultice não se confunde com instinto de oportunidade - e ao menos o segundo item é certo que o presidente tem de sobra.
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