A conta chegou para Bolsonaro, que agora pressiona por acordo com a Pfizer
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O presidente Jair Bolsonaro fez pouco da Covid-19.
"Gripezinha".
Desdenhou da segunda onda da pandemia.
"Conversinha".
Chamou de "maricas" quem não enfrenta o coronavírus "de peito aberto" —leia-se: sem usar máscaras, sem respeitar o isolamento social e com muita fé na cloroquina.
Apoiadores ecoaram cada palavra e cada gargalhada do ex-capitão.
Mas então veio a vacina.
E a piada começou a perder a graça.
A sensação de que o governo não se preparou para a vacinação em massa dos brasileiros passou a aumentar a cada fala do general Eduardo Pazuello - aquele que era especialista em logística, mas que só agora deu para se lembrar que uma campanha de imunização requer, por exemplo, a compra de seringas.
As imagens dos felizardos britânicos recebendo ontem a vacina da Pfizer também calaram fundo. Em breve, os brasileiros assistirão americanos, europeus e vizinhos da América Latina juntarem-se aos ingleses na fila de vacinação (Peru, Chile, México, Equador, Costa Rica e Panamá há meses já fecharam acordos de compra com a Pfizer).
Mas o golpe mais doído para Bolsonaro veio na segunda-feira, quando ele ouviu o inimigo João Dória anunciar que irá vacinar os paulistas a partir do dia 25 de janeiro doa a quem doer. O fato de o governador de São Paulo ainda ter se oferecido para fornecer a Coronavac a outros estados da federação só ajudou a realçar a inação do governo federal e azedar o humor do presidente. A vacina de patente chinesa começou a ser produzida nesta semana pelo Instituto Butantan, em São Paulo.
Diante disso, Bolsonaro partiu para um cavalo-de-pau.
Ele agora quer que o Ministério da Saúde feche o quanto antes um acordo de compra da vacina da Pfizer - aquela mesma cuja aquisição era inviável por exigir armazenamento a -70º C, segundo havia dito o governo há menos de duas semanas.
Mas assinar um acordo de última hora com a Pfizer, em prazo exíguo e ainda a bom preço não são as únicas missões recebidas pelo Ministério da Saúde.
A pasta está sendo pressionada também para obter da farmacêutica o compromisso de fornecer ao governo federal ao menos um lote "simbólico" de doses até janeiro -o suficiente para produzir imagens bonitas de idosos e enfermeiros sendo vacinados.
E assim deixar claro para o país que, se na corrida das vacinas os brasileiros até agora ficaram para trás, o presidente Bolsonaro não.
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