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Thaís Oyama

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

O governo Bolsonaro, que enterrou a Lava Jato, virou um filme de terror

Colunista do UOL

09/02/2021 12h50

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Assassino confesso da jornalista Sandra Gomide, o ex-diretor de redação do jornal O Estado de S. Paulo Antonio Pimenta Neves ficou onze anos em liberdade antes de o STF negar seu último pedido de recurso e mandá-lo finalmente para o xadrez (mesmo assim, ele dormiu lá não mais do que dois anos: em 2013, foi para o regime semiaberto e, em 2016, para o regime aberto).

A impunidade de que Pimenta Neves usufruiu por tantos anos costuma beneficiar principalmente condenados por crimes de corrupção, que, assim como o ex-diretor de redação, têm dinheiro para pagar advogados caros e íntimos das cortes superiores.

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que possibilita a prisão após condenação em segunda instância pretendia acabar com casos como o de Pimenta Neves e o de muitos criminosos de colarinho branco, mas ao que tudo indica continuará mofando nos escaninhos do Congresso.

Na semana passada, a PEC foi solenemente ignorada pelo governo Bolsonaro — ficou de fora da lista de 30 prioridades que o Executivo enviou ao Congresso. Sua aprovação não interessa ao ex-capitão nem aos seus amigos do Centrão, a começar pelo novo presidente da Câmara, Arthur Lira, duas vezes réu no STF por corrupção.

Já foi diferente.

Em agosto de 2017, quando Jair Bolsonaro estava com os dois pés no PEN (Partido Ecológico Nacional), o presidente da sigla, Adilson Barroso, organizou uma festa num hotel do Rio para anunciar a sua filiação. A pedido de Bolsonaro, Barroso rebatizou a sigla de Patriota, já que a palavra "ecológico" desagradava o ex-capitão.

Minutos antes de discursar diante de uma plateia de centenas de pessoas, porém, Bolsonaro desistiu do "casamento". Havia recebido uma ligação de um amigo avisando-o de que, no ano anterior, o PEN havia entrado com uma ação declaratória de inconstitucionalidade contra a decisão do STF de permitir a prisão para condenados em segunda instância.

Assim, em vez de confirmar a sua filiação, Bolsonaro disse ao microfone, diante de uma plateia formada por centenas de pessoas, que o "casamento" estava suspenso porque ele não poderia entrar em um partido que corria o risco de ser "acusado de enterrar a Lava Jato".

Restou a Barroso ficar com a cara no chão e, mais tarde, espernear na tentativa de pressionar o ex-capitão a mudar de ideia. "Depois de ter estuprado o PEN, o que espero dele agora é o casamento com o Patriota, a que ele deu o nome", disse numa entrevista.

As voltas que o mundo dá.

Três anos depois, Bolsonaro, presidente da República, cuidou ele mesmo de matar e enterrar a Lava Jato, com a providencial ajuda do fiel escudeiro Augusto Aras, por ele nomeado Procurador-Geral da República.

E o PEN, quer dizer, Patriota, o partido que o ex-capitão "estuprou", nas palavras de Barroso, pode ser a sua nova casa (o PTB de Roberto Jefferson também corre forte no páreo).

Assassinato, defloramento de virgens e traições sem fim - o Mito virou uma assombração, e o governo Bolsonaro, uma história de terror.