Topo

Thaís Oyama

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Quem subiu os juros não foi o Copom, foi Bolsonaro

O rei emérito da Espanha Juan Carlos I, a quem Bolsonaro faria bem em ouvir   - Divulgação/Estonian Foreign Ministry
O rei emérito da Espanha Juan Carlos I, a quem Bolsonaro faria bem em ouvir Imagem: Divulgação/Estonian Foreign Ministry

Colunista do UOL

18/03/2021 10h28

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

"Presidente, por que não te calas?".

A pergunta — inspirada na que fez o então rei da Espanha Juan Carlos I a Hugo Chávez em 2007, quando o hoje morto ditador venezuelano atrapalhava com frases fora de hora o curso da conferência Ibero-Americana no Chile— deveria constar como post scriptum na ata do Conselho Político Monetário (Copom), que ontem subiu os juros da taxa Selic pela primeira vez desde 2015.

A sugestão é de um especialista do mercado financeiro com experiência no governo Bolsonaro e nenhuma particular animosidade contra ele.

Lembra o especialista que o fato de a taxa de juros ter de aumentar este ano para algo em torno de 4,5% já era de conhecimento do mercado.

Ocorre que o Copom acabou antecipando esse movimento, e o fez porque a expectativa de inflação piorou muito nos últimos trinta dias.

E piorou por quê?

Piorou porque desde a reunião anterior do Copom, em janeiro, Jair Bolsonaro trocou de forma desastrosa o presidente da Petrobras, ameaçou intervir em estatais e setores que não eram do seu bico e flertou com a possibilidade de furar o teto de gastos. Com isso, passou o claro recado de que o ministro Paulo Guedes deixara de ser um anteparo para os seus desatinos populistas.

Depois da ameaça de o governo furar o teto de gastos, manifestada na votação da PEC emergencial no Senado, o dólar chegou perto de 5,90 reais. Nos últimos trinta ou quarenta dias, calcula-se que o Banco Central tenha vendido perto de 15 bilhões de dólares para acalmar o câmbio - e ainda assim ele continua nervoso.

A dinâmica da economia não muda: o nervosismo no mercado bate no dólar, que bate no preço da gasolina e do supermercado, que por sua vez bate nos juros que, mais altos, desencorajam as pessoas a tomar empréstimos, investir e comprar - em outras palavras, esfria a economia.

Bolsonaro esfria a economia.

Nunca houve motivos para acreditar que Jair Bolsonaro estivesse apto a governar um país.

Tampouco o histórico do ex-capitão do Exército e ex-deputado de baixo clero algum dia autorizou a esperança de que, no caso de uma crise, ele pudesse conclamar a nação à união, agregar diferentes em torno de objetivos iguais, liderar um plano de combate aos problemas e resgatar deles o país.

A pandemia de proporções planetárias e o aprofundamento de uma crise econômica sem precedentes só comprovaram o que sempre esteve claro: a condução de um país é uma tarefa muito além da capacidade do ex-capitão.

Seguir o conselho do rei espanhol é o melhor que Bolsonaro pode fazer agora pelo Brasil.