Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Por vaga no STF, Mendonça e Aras brigam para ver quem agrada mais o chefe
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André Mendonça, o ex-ministro da Justiça que parece ter "vindo de Marte", segundo alfinetou ontem o ministro do STF Gilmar Mendes, não é apenas terrivelmente evangélico. O atual Advogado-Geral da União é o coringa que o presidente Jair Bolsonaro saca do baralho toda vez que precisa de um cumpridor de missões "discreto e disciplinado", como o descrevem assessores do presidente.
Mendonça já deu a Bolsonaro incansáveis mostras de "disciplina". Por ao menos quatro vezes, brandiu a Lei de Segurança Nacional contra críticos do presidente, incluídos aí jornalistas, youtubers e empresários. Recentemente, valeu-se do Código Penal para tentar enquadrar no artigo de crime contra a honra moradores do estado de Tocantins que confeccionaram um outdoor pedindo o impeachment do ex-capitão, que "não vale um pequi roído", segundo dizia o cartaz. Em junho, quando o atual Advogado-Geral da União ainda era ministro da Justiça, sua pasta produziu um dossiê sobre um grupo de 579 servidores identificados como antifascistas, no que foi (mal) visto pelo STF como uma tentativa de uso do aparato do governo para perseguir opositores. Nesse caso, embora o dossiê tenha sido confeccionado debaixo de suas barbas, Mendonça negou ter conhecimento dele.
Ontem, ecoando outra vez o chefe, André Mendonça defendeu em sessão do STF a liberação de cultos e missas em meio às quase 4 mil mortes diárias pela covid-19. Entre um e outro versículo bíblico que citou de olhos cerrados, afirmou que os "verdadeiros cristãos estão dispostos a morrer" para "garantir a liberdade de religião e de culto".
Presente à mesma sessão do Supremo, Augusto Aras, o Procurador-Geral da República, bem que tentou, mas ficou longe de ombrear Mendonça em eloquência e teatralidade.
Aras, como Mendonça, possui uma longa folha de serviços prestados ao presidente Bolsonaro, sendo o mais contundente deles a nota divulgada em janeiro em que sugeriu que o presidente, acuado à época por novos pedidos de impeachment, poderia decretar o estado de defesa no país.
Aras e Mendonça disputam a vaga a ser aberta no STF em julho, com a aposentadoria do ministro Marco Aurélio de Mello. Na Corte, Bolsonaro tem interesses diversos: o inquérito dos chamados atos antidemocráticos, que envolve aliados e talvez algum parente próximo, o da tentativa de interferir na Polícia Federal e o que trata do foro especial de seu filho Flávio Bolsonaro são apenas os mais visíveis.
Até julho, Bolsonaro irá definir com quem a Corte e os brasileiros conviverão compulsoriamente pelas próximas décadas. Enquanto isso, os dois contendores irão se empenhar num campeonato de "disciplina" para ver quem agrada mais o chefe. Sabem que, para o presidente, a escolha do novo ministro do STF será terrivelmente pessoal.
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