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Thaís Oyama

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Ação de Mendonça no caso da delegada lembra por que é o favorito para o STF

André Mendonça, então ministro, se reuniu com o presidente Bolsonaro após pedido de delegada ao STF - Divulgação/AGU
André Mendonça, então ministro, se reuniu com o presidente Bolsonaro após pedido de delegada ao STF Imagem: Divulgação/AGU

Colunista do UOL

16/06/2021 11h59

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O UOL revela hoje que uma delegada da Polícia Federal foi afastada da investigação sobre os chamados atos antidemocráticos depois de pedir autorização para uma operação de busca e apreensão no Palácio do Planalto.

A operação policial visava especificamente a Secretaria de Comunicação, notório ninho de mafagafos e mafagafinhos comandados pelo presidente Jair Bolsonaro e seu filho Carlos Bolsonaro.

O pedido de afastamento da delegada Denisse Ribeiro foi feito por determinação do diretor-geral da PF, Rolando Alexandre Souza.

A cronologia dos fatos, bem como o passado pregresso dos envolvidos, indica que a manobra para tentar tirar a policial da investigação partiu de Bolsonaro —e contou mais uma vez com a prestimosa ajuda de André Mendonça, na ocasião, ministro da Justiça e superior direto do diretor-geral da PF.

Mendonça, que é pastor terrivelmente evangélico e faz tudo o que o presidente quer, é para surpresa de ninguém o favorito de Bolsonaro para ocupar a vaga de Marco Aurélio Mello no Supremo Tribunal Federal.

Até pouco tempo atrás, o único empecilho para a indicação de Mendonça à vaga era o fato de ele não ser nem de longe o favorito também da cúpula do Senado, incluindo Davi Alcolumbre, o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), filtro por onde necessariamente passa o nome do indicado do presidente para a Corte.

Como Alcolumbre, senadores da base e deputados integrantes da cúpula do Centrão já entenderam que a fidelidade de Mendonça funciona para o seu padrinho, o presidente Bolsonaro, mas não se estende a eles, parlamentares fregueses da Justiça ou potenciais alvos dela.

Com bons motivos, suas excelências suspeitam que, não sendo filhos do presidente da República nem amigos dos filhos do presidente, em caso de necessidade serão deixados na chuva pelo provável novo magistrado.

Mas as resistências do presidente da CCJ e da base do Senado ao nome de Mendonça começam a ser vencidas pelos meios costumeiros.

Alcolumbre, por exemplo, já avisou que pode olhar o nome do atual Advogado-Geral da União com mais simpatia se for convidado a substituir o general Luiz Eduardo Ramos na chefia da Casa Civil.

A Casa Civil é um ministério importante porque, além de fazer a interlocução do Executivo com o Legislativo, "gerencia" o trabalho de outros ministérios e ajuda a definir quais obras e investimentos serão prioritários.

Ramos, o atual ocupante do cargo, é um fiel aliado de Bolsonaro, mas um corpo estranho no Congresso.

Já um parlamentar no posto será a garantia de que os partidos terão mais influência nas decisões do Planalto sobre, por exemplo, que obras e que redutos receberão a atenção do caixa do governo — uma conveniência e tanto em véspera de eleições.

Como se diz na política, problema é tudo aquilo que o dinheiro não pode comprar.

Assim, para parlamentares, André Mendonça, que era o problema de ontem, pode ser a solução de amanhã.

Quanto a Bolsonaro, o presidente que anda de moto com placa coberta, a possível nomeação do fiel escudeiro Mendonça será a continuação do único trabalho a que ele se dedica com real afinco: avacalhar as instituições e rebaixá-las a instrumentos a serviço de seu clã.