Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Para empresários, Lula aposta no "nós contra eles" ao mirar teto de gastos
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Recentemente, passou a circular na internet um vídeo apócrifo em apoio a Lula. O filme, com produção e acabamento profissionais, além de fazer a apologia clássica da história de superação do petista, lembra que ele, aluno "da faculdade da vida", recebeu diplomas "das mais importantes universidades do mundo", ganhou elogios do "Obama, do Chico Buarque, do Putin, do Bono Vox" e é "muito admirado pelo Papa".
O vídeo segue com ataques à imprensa, a "parte do sistema judiciário" e também aos "neoliberais" e aos grandes empresários. E fecha com a seguinte frase na tela: "Além de ganhar dinheiro, o que os muito ricos fizeram por seu país hoje?"
O vídeo não traz a assinatura do PT, mas tampouco foi renegado pela sigla. Ontem, Lula fez uma declaração em linha com o tom do filme.
No Twitter, prometeu acabar com o teto de gastos, sugerindo que ele só interessa aos banqueiros e ao sistema financeiro. "Quando você dá 1 bilhão para rico é investimento, e quando você dá R$ 300 para pobre é gasto?! Nós vamos revogar esse teto de gastos", escreveu.
É certo que a bravata de Lula não pode ser tomada pelo seu valor de face.
Retórica de campanha é uma coisa, programa de governo, outra.
Mas o post do petista já teve ao menos duas consequências.
A primeira foi reforçar o discurso da ala do empresariado de São Paulo que se mantém resistente a ele.
Se parte dos donos do PIB já vê a candidatura e a eleição do ex-presidente como favas contadas, outra continua não apenas torcendo pelo surgimento da terceira via, como se movimentando freneticamente para ajudar a viabilizá-la. Esse segundo grupo aproveitou o discurso anti-responsabilidade fiscal de Lula para insistir junto ao primeiro grupo que "não é hora de jogar a toalha".
A postagem de Lula também serviu para indicar o tom da sua campanha, que já começou. Ao se colocar na trincheira dos desvalidos, o petista se prepara para o que promete ser uma disputa ferrenha com o presidente Jair Bolsonaro pelo fundamental voto das classes D e E.
Nessa briga de foice, Bolsonaro conta com o poderoso arsenal do Bolsa Família e do auxílio emergencial, ambos já embicados para o alto e avante.
Já Lula, em contraposição às concretudes que a máquina do governo pode oferecer, tem armas que não devem ser subestimadas: a abstração das promessas para o futuro e a memória de um passado de fartura, que, como todo passado bem edulcorado, tende sempre a parecer melhor do que foi.
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