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Por que Bolsonaro não quer contar o que tratou "em reservado" com Moraes?
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Na amigável entrevista dada ontem por Jair Bolsonaro à Rádio Jovem Pan, não se ouviu da boca do ex-capitão nenhum ataque ao Supremo Tribunal Federal e nem um único impropério ou palavra de baixo calão dirigida a integrantes da Corte.
Pelo contrário.
Foi com inaudito respeito que o presidente citou os ministros Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, a quem outro dia mesmo xingou e esculhambou. Desta vez, só faltou o data venia.
Além de subitamente educado, Bolsonaro estava também responsável. Perguntado se um dia pensou em fechar o STF, apressou-se em negar três vezes: "Não, não, não. Eu sei bem o meu lugar, sei a importância do Brasil continuar numa, normalidade, vamos assim dizer".
O que domesticou Bolsonaro?
O presidente deu uma dica.
Quando falou sobre o encontro que teve com o ex-presidente Michel Temer — a partir do qual, de incendiário e algoz do STF, virou uma seda— afirmou:
"Conversei com o Temer, demoradamente. Naquele dia, conversei (também) com o Alexandre de Moraes. O que foi tratado, me desculpe, é reservado".
O que Bolsonaro disse, portanto, foi que conversou com o ex-"canalha" Moraes, ora promovido a "jurista" e "professor", "tratou" alguma coisa com ele, mas não quer que ninguém saiba o que foi.
Sem que se saiba o que foi, porém, sabe-se o que aconteceu logo depois do trato secreto: no mesmo dia 9, poucas horas depois da conversa entre Bolsonaro e Alexandre de Moraes, o ministro do STF revogou a prisão preventiva do blogueiro bolsonarista Oswaldo Eustáquio, o que era uma barulhenta demanda dos apoiadores do presidente nas redes.
E cinco dias depois, a Segunda Turma do STF decidiu adiar a decisão sobre o foro adequado para o julgamento de Flávio Bolsonaro — um adiamento providencial já que, aprovado o nome do novo ministro indicado pelo presidente, este irá automaticamente para a Segunda Turma e poderá desempatar o julgamento em favor de Flávio.
Isso, porém, se Alexandre de Moraes não pedir para tomar ele próprio o lugar vago na Segunda Turma, o que deixaria o ministro indicado por Bolsonaro fora de uma das decisões que mais interessam ao presidente.
A possibilidade de Moraes requerer para si a vaga na Segunda Turma, que até o momento o ministro não confirma nem desmente, é uma das facas que ainda pende sobre a cabeça de Bolsonaro e que pode ajudar a explicar o ovino comportamento do ex-capitão.
Outra, não menos importante, é a ação no Tribunal Superior Eleitoral que pede a cassação da chapa do presidente e de seu vice, Hamilton Mourão, por impulsionamento ilegal de mensagens em massa pelo WhatsApp na campanha de 2018.
Segundo apurou o jornal Valor, a ação pode ser levada ao plenário do TSE no mês que vem. Nesse caso, se o colegiado decidir pela condenação da chapa, tanto Bolsonaro quanto Mourão ficarão inelegíveis por oito anos e não poderão disputar as eleições de 2022.
Ontem à noite, em entrevista ao Amarelas On Air, da revista VEJA, o presidente do TSE, Luís Roberto Barroso, perguntado sobre a possibilidade de o TSE vir a decretar a inelegibilidade de Bolsonaro, respondeu que, como cidadão preocupado com as instituições, prefere que disputas eleitorais sejam resolvidas nas urnas e não no Judiciário. Mas que, como juiz, considera que, em havendo fatos e provas, "a gente tem que fazer na vida o que tem de fazer".
Bolsonaro não quer contar o que conversou com o ministro Alexandre de Moraes.
Tudo bem, talvez não precise mesmo.
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