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A segunda intenção do relatório de Renan, visto por colegas como "traidor"
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"Renan virou X9".
A afirmação, vocalizada por um representante do bloco do Centrão, resume a reação de políticos ao texto que o relator da CPI da Covid elaborou, e nega ter vazado à imprensa, pedindo o indiciamento de 70 pessoas.
A expressão X9, usada para designar informantes e traidores, tem sido atribuída a Renan por políticos convencidos de que o relatório do senador — que acusa o presidente Jair Bolsonaro do crime de genocídio de indígenas, além de pedir o indiciamento de políticos que não foram ouvidos pela comissão— foi motivado menos por convicções pessoais do que por interesses da mesma natureza.
"A política, antes de ser nacional, é municipal", reza a máxima que orienta as ações de boa parte dos profissionais da política no Brasil.
Para adeptos dessa máxima, Renan Calheiros vestiu o figurino de acusador serial, inclusive de seus pares, como estratégia na briga pelo poder em Alagoas, sua terra natal e base eleitoral.
Até um ano atrás, os planos de Renan eram de que seu filho, o governador Renan Filho, conhecido como Renanzinho, iria renunciar ao cargo para concorrer ao Senado (no exercício do segundo mandato, ele não pode mais tentar a reeleição) e deixaria em seu lugar o vice, Luciano Barbosa. Há décadas aliado dos Calheiros, Barbosa cuidaria de manter o poder local do clã enquanto Renanzinho alçava voo nacional.
Ocorre que, num movimento inesperado, Barbosa decidiu deixar o cargo de vice-governador para concorrer a prefeito de Arapiraca, a segunda maior cidade do estado. Elegeu-se, rompeu com os Calheiros e, com isso, largou Renanzinho sem vice e correndo o risco de, ao deixar o cargo para concorrer ao Senado, ver a máquina pública passar para mãos indesejáveis.
Por lei, o primeiro na linha sucessória de um governador sem vice é o presidente da Assembleia Legislativa — atualmente Marcelo Victor, aliado de Arthur Lira, o presidente da Câmara dos Deputados e rival de Renan Calheiros na política alagoana.
Desde então, o grande temor de Renan passou a ser a possibilidade de o grupo de Lira, fortalecido com a perspectiva de ficar com o governo do estado, lançar ao Senado um nome capaz de levar a vaga que ele guardava para seu filho.
Trocando em miúdos, a leitura de próceres do Centrão e de pelo menos um correligionário de Renan no MDB é de que, diante do que lhe pareceu um beco sem saída, o relator da CPI da Covid resolveu partir para uma manobra radical que — se atirou para fora do carro inclusive "gente da política" como o deputado Ricardo Barros (PP)—, conferiu-lhe definitivamente a bandeira da oposição, cujo mastro estará em 2022 nas mãos do ex-presidente Lula, um bom padrinho para reforçar as chances de Renanzinho no Senado.
Renan Calheiros foi indicado relator de uma das CPIs mais relevantes da história do Brasil, criada para apurar a responsabilidade pela morte de 600 mil brasileiros na pandemia— e políticos que apoiaram o seu nome fizeram questão nesta semana de lembrar que ele não chegou lá pelas próprias pernas.
Mas, na reta final da CPI, o senador decidiu jogar sozinho, e não apenas rachou a comissão como a expôs ao risco de trair seu principal propósito ao endossar hipérboles retóricas e transformá-las em tipificações jurídicas tidas como descabidas até por opositores do governo.
Mas, como diz o ditado, "em tempos de murici, cada um cuida de si".
E por incrível que pareça, o fato de um dos provérbios mais citados da política trazer o nome da terra natal do senador não passa de mera coincidência.
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