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Thaís Oyama

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

"Trauma de Alckmin" ameaça candidatura de Ciro, com marqueteiro de luxo

O ex-governador Ciro Gomes: pré-candidatura não exatamente "de pau e de lata" - ALEX SILVA/ESTADÃO CONTEÚDO
O ex-governador Ciro Gomes: pré-candidatura não exatamente "de pau e de lata" Imagem: ALEX SILVA/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do UOL

13/12/2021 11h57Atualizada em 14/12/2021 14h51

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Ciro Gomes contratou um marqueteiro caro.

Em 2017, João Santana, ex-mago das eleições petistas, disse ter ganho, só por vias tortuosas (depósitos da Odebrecht feitos em conta secreta na Suíça), US$ 10 milhões como parte do pagamento da campanha para reeleição de Dilma Rousseff.

Como o marqueteiro e sua mulher, Mônica Moura, depois tornados delatores da Lava Jato, reconheceram ter recebido também "repasses em dinheiro vivo", além das transferência para a Suíça, fica difícil precisar quanto totalizaram as campanhas.

O certo é que barato não foram.

Ciro Gomes não se importou com o preço dos serviços de Santana e tampouco com o fato de o marqueteiro, condenado por lavagem de dinheiro, ter sido usuário de tornozeleira eletrônica até o fim do ano passado. Seu partido, o PDT, aceitou pagar R$ 250 mil por mês a Santana para ele catapultar a candidatura do ex-governador do Ceará.

Por enquanto, o mago não entregou nenhum feito.

Rejeitado pela direita e escanteado pelo ex-presidente Lula entre eleitores de esquerda, Ciro Gomes pontuou magros 9% de intenção de votos no último Datafolha — bem longe dos 20% que, em junho, o presidente do PDT, Carlos Lupi, disse planejar que seu pré-candidato alcançasse em março de 2022, ou seja, daqui a três meses.

Na semana passada, diante da amplificação da notícia de que a entrada do ex-juiz Sergio Moro na arena eleitoral poderia fazer o PDT desistir da candidatura de Ciro, apoiadores do ex-governador se mobilizaram nas redes em seu favor. Na sexta-feira, segundo monitoramento da AP Exata, Ciro chegou a ter o maior índice de menções positivas no Twitter entre todos os presidenciáveis.

A mobilização nas redes, regida pelo marqueteiro Santana, pode não ser suficiente para segurar a candidatura de Ciro.

Para além dos interesses individuais em jogo, o que pesará ao final é o indefectível instinto de sobrevivência do partido e do bloco de seus integrantes.

Hoje, diante da proibição de doações de empresas, os recursos de um partido nas eleições provêm quase que exclusivamente das verbas dos fundos eleitoral e partidário — verbas que tendem a ser vorazmente consumidas numa campanha majoritária, em detrimento das campanhas proporcionais.

O traumático caso de Geraldo Alckmin, fresco na memória de caciques partidários, mostra o que pode acontecer a siglas que fazem a escolha errada.

Em 2018, o PSDB torrou na campanha do ex-governador de São Paulo à Presidência 51 milhões de reais, menos apenas que o campeão de gastos, o rico e auto-sustentável candidato do MDB, Henrique Meirelles. Com o direcionamento dos fundos públicos para sua então estrela, o PSDB deixou à míngua os candidatos a deputado federal, por exemplo.

Resultado: Alckmin ficou em quarto lugar, o pior resultado de um tucano nas eleições presidenciais desde 1994, e o PSDB amargou a humilhante nona posição no ranking das bancadas na Câmara.

Os 54 deputados que havia eleito em 2014 viraram 29, o que deixou o partido à beira da inanição — do ponto de vista da força política e também do acesso aos fundos públicos na atual campanha.

Em entrevista na semana passada à BandNews, Ciro jurou que não desistirá de disputar a eleição.

Disse que é candidato "em cima de pau e de lata" e que o sistema "vai ter" de engoli-lo. Vai mesmo? Não se, para o seu partido, o custo superar o benefício, como sabe o ex-governador.