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A professora aposentada Odila diz por que decidiu ir para casa de repouso
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Esta é parte da versão online da edição de segunda-feira (25) da newsletter de Thaís Oyama.
A viúva Odila W. lecionou por 50 anos como professora de Português e passou a viver numa casa de repouso de São Paulo depois que sua filha morreu, vítima de um câncer fulminante. Aqui, ela conta o que a irrita e o que a alegra na convivência com os funcionários e os outros residentes da casa, e fala dos seus arrependimentos e lembranças. Para assinar o boletim e ter acesso ao conteúdo completo, clique aqui.
"A enfermeira me dizia: 'Quer papinha?', 'vamos nanar?' Tenha dó, eu tenho 89 anos
"Quando ouço alguém falar nessa história de "melhor idade", isso me irrita. Você vê as pessoas queridas irem embora, tem reumatismo, pressão alta, dor no joelho. O que tem de melhor idade nisso? Eu perdi uma filha. Não é fácil, viu? Por isso estou aqui. Tenho uns sobrinhos que são uns amores, mas não quero ser um peso pra eles. Então, decidi vir pra uma clínica de repouso. Naturalmente, eu posso pagar.
Tem outra coisa que me irrita nisso de ser idosa. Eu tive uma infecção no rim e passei 18 dias no hospital. As enfermeiras me perguntavam: "Quer papinha?", "vamos nanar"? Mas que "papinha", que "nanar"?! Eu ficava louca. Eu não tenho quatro anos de idade. Minha irmã, que me visita sempre, diz: "É o jeito de elas quererem agradar". Eu acredito, mas me irrita. Tenha dó, eu tenho 89 anos.
O dia aqui na clínica é meio enjoativo, de tanto não ter o que fazer. Às sete horas eu já acordei. Daí fico esperando as funcionárias trazerem o café. Tem atendente que às sete e pouco já traz. Outras seguem a regra e só aparecem depois das oito. Aí eu fico quietinha na cama, xingando a funcionária por dentro, "Ah, mas precisa ficar seguindo a regra?".
Elas servem café com leite, pão com manteiga — nada de melão com presunto, é coisa simples. Tomo o café e ligo a televisão, a televisão é muito amiga. Vejo Ana Maria Braga e quando acaba vou lá fora tomar um pouco de sol e conversar com os rapazes. Eles já estão sentados. Converso com o Carioca, o Tomé, o Augusto (...)
O Augusto é muito inteligente, veio pra cá por causa de bebida. Dizem que chegou tão debilitado que nem comia. É um pouco desanimador conversar porque tem pouca gente lúcida nesse lugar.
Quando o Sergio Moro deixou de ser ministro, um assunto muito importante, eles nem ligaram. Ai, como é triste. Agora mesmo eu perguntei para eles: "A que horas o Brasil vai jogar com o Uruguai?" Ninguém sabia. Imagine, homens que não sabem nada de futebol! Eu sei mais que eles (...)
Eu não durmo muito bem. Às vezes, quando eu demoro a pegar no sono, só penso besteira. Que tipo de besteira? Por exemplo, penso: "Amanhã vou fazer pouco caso de Fulano porque Fulano fez pouco caso de mim hoje". Mas daí acordo e esqueço, porque é tudo besteira. São essas coisas que a noite traz. A noite não é boa conselheira (...)
Eu brigo com Deus: "Tá contente agora? Tá contente com o que você me fez? Tá contente por ter me tirado a minha filha?" Brigo com ele, fico de mal. Tem vezes que eu peço perdão. Não sei se ele me perdoa. Mas dizem que depois dos 80 a gente pode falar o que quiser que está perdoado (...)
Ninguém que mora aqui acha que precisa ficar, todos querem ir embora. Mas se a família pôs é porque tem algum problema. Só que ninguém acha que tem problema.
O Tomé, por exemplo. Ele diz que não tem motivo nenhum pra ficar e toda vez que os filhos vêm visitá-lo, ele pede pra voltar para casa. Aí, passa um tempo e os filhos falam: "Tá bom, pai, vai arrumar a mala, então, pra gente ir pra casa".
Só que quando ele vai arrumar a mala, os filhos aproveitam para virar as costas e ir embora. Aí, o Tomé chega para a gente, desenxabido, e diz: "Acho que vou ficar mais um pouquinho aqui" (...)
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